Folha de S. Paulo


Apertos de mão

Como tem sido repetido até dizer chega, a Cúpula das Américas, no Panamá, foi um encontro histórico.

Parte essencial de sua transcendência se deve à primeira participação de Cuba nesse fórum continental e aos encontros de alto nível mantidos por representantes dos governos de Cuba e dos Estados Unidos, incluídos os respectivos presidentes, a caminho de restabelecer as relações diplomáticas (ao que parece, algo próximo) e de um processo de normalização das relações entre os dois Estados (algo muito mais complexo e distante).

O clímax dramático desta aproximação foi, claro, o encontro entre Barack Obama e Raúl Castro, poucos minutos depois de o presidente cubano se apresentar na plenária com um discurso em que o general estava visivelmente emocionado.

Após uma necessária recapitulação histórica das traumáticas relações entre o país do norte e a ilha do Caribe, ele abriu uma brecha de esperança com o reconhecimento da honestidade e do empenho do atual presidente americano na reaproximação e com a possibilidade de construir novas pontes, que incluam as diferenças políticas, sociais e econômicas hoje existentes.

Durante o encontro bilateral, enquanto Raúl e Obama apresentavam publicamente as conclusões que podiam apresentar, uma ação física e simbólica que deve ter comovido milhões de pessoas pelo mundo (alguns emocionados, outros desgostosos, pois esses hão de existir) ocorreu repetidamente: os apertos de mão que, vez ou outra, trocavam os presidentes dos dois países que se trataram como inimigos ao longo de mais de meio século.

O símbolo de que a distensão e o diálogo são sempre possíveis e não apenas possíveis: que são necessários e dão bons resultados, ainda mais em um mundo onde todos brigam, se agridem, se condenam. O símbolo de que o respeito ao outro e a aceitação de suas ideias são o princípio de qualquer relação.

Oxalá a lição que deixaram os presidentes no Panamá se transforme em um aprendizado para todos e cada um dos cubanos que hoje vivem na ilha e em diversas partes do mundo. Se dois governos que por tantos anos se enfrentaram começam a trilhar o caminho da conciliação, por que não fazê-lo os cubanos que pensam como um, como outro ou como nenhum dos dois?

Quero ser otimista e pensar que é possível haver essa aproximação e convivência. Mas, para que ela ocorra, muitos fundamentalismos, ódios e posições entrincheiradas precisam ceder.

E, ao que parece, é mais fácil que dois presidentes se deem as mãos do que conseguir uma conciliação nacional, civilizada, dinâmica, crítica, que o futuro de Cuba exige como necessidade inevitável. Para que o símbolo criado por Barack Obama e Raúl Castro ganhe ainda mais sentido.


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