Folha de S. Paulo


Ramón Mercader ri no túmulo

Uma revista espanhola fez uma revelação que causou comoção no mundo do show business do país ibérico: Sara Montiel, um dos ícones do cinema espanhol do século 20 e uma das mulheres mais belas do mundo, pode ter tido uma filha ilegítima de ninguém mais, ninguém menos que Ramón Mercader, o assassino de León Trótski.

Segundo a revista, a criança, concebida e nascida no México no período em que Montiel viveu nesse país, na década de 1950, nasceu por cesárea. Quando sua mãe acordou da anestesia, lhe disseram que a menina tinha nascido morta, sendo que, na realidade, fora sequestrada e enviada a Valencia, onde seria adotada e criada por uma família que ali vivia. A operação à qual submeteram a atriz e cantora foi tão brutal que, no processo, foi extirpado seu útero, deixando-a estéril pelo resto de sua vida.

Sobre aquela gravidez de "la" Montiel pouco se soube na época. O assunto só foi comentado mais tarde, mas tudo parece indicar que aconteceu, embora não tenha sido possível determinar com clareza o destino da criança que ela gestou. E nunca se falou com certeza do possível pai, embora tenham sido aventados vários nomes de amantes duradouros e ocasionais da vedete.

Agora, vários anos após a morte da bem chamada "Saritíssima", o homem que por anos foi seu cabeleireiro fez a revelação explosiva que a imprensa divulgou... com a cautela devida num caso como esse.

Poucos dos roteiristas das telenovelas brasileiras mais cheias de reviravoltas teriam sido capazes de imaginar esse giro "dramático" no desenvolvimento de uma personagem. Isso porque, embora la Montiel pareça ter sido bastante liberal em suas relações amorosas, nesse episódio, para que a conjunção agora revelada pudesse ter acontecido, ela teria de ter ocorrido nos anos 50, quando Mercader estava encarcerado na temível prisão mexicana de Lecumberri, cumprindo 20 anos de pena pelo assassinato de Trótski.

É sabido, pela própria Montiel e por seu amante da época, o colunista espanhol Juan Plaza, que a atriz visitou Mercader na prisão mexicana em duas ou três ocasiões e, num gesto de simpatia, lhe deu de presente um agasalho tricotado por ela. O que desconheço é se nesse inferno chamado Lecumberri havia autorizações para visitas conjugais...

Se bem que é sabido que com um pouco de dinheiro é possível abrir qualquer porta no México, ainda mais a de uma instituição na qual sempre reinou a corrupção. Ou terá sido o longo braço de Stálin que, de Moscou, deu ordem para que fossem feitos "investimentos" para melhorar a vida de seu pistoleiro de aluguel e o presenteou com o petisco fino que era a jovem Sara Montiel?

Os ingredientes da telenovela mais inesperada da biografia sempre obscura de Ramón Mercader foram colocados sobre a mesa. Agora falta esperar os próximos capítulos –ou então que, neste século 21 tão pouco novelesco, um simples exame de DNA esclareça tudo.

Tradução de CLARA ALLAIN


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