Folha de S. Paulo


Bom senso e oportunidade

A questão do embargo dos EUA a Cuba volta para a pauta dos debates provocados ao nível bilateral, regional e até mundial pela política de restrições econômicas e financeiras aplicadas a Cuba há mais de meio século em virtude dessa lei.

Alguns meses atrás, as declarações divulgadas pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton sobre o fracasso dos objetivos do embargo e as opiniões emitidas por várias personalidades sobre a necessidade de suspender as restrições criaram uma expectativa quanto às ações possíveis do presidente Barack Obama com relação a um assunto tão delicado.

Enquanto isso, o editorial recente do jornal "The New York Times" que incentivou o presidente a "pôr fim a um embargo insensato" é um canhonaço ruidoso demais para ser ouvido apenas como uma questão do momento atual.

Exercendo seu papel de líder da opinião pública americana (com cujo respaldo afirma contar), o jornal fez uma análise sintética das consequências que a política do embargo trouxe para os dois países.

Sem deixar de criticar a situação interna de Cuba, como seria de se esperar desse veículo, mas ao mesmo tempo admitindo que houve mudanças econômicas e sociais na ilha, o editorial chama a atenção para dois fatores essenciais: a situação complicada das relações internacionais dos Estados Unidos e a possibilidade de seus empresários tomarem parte nas oportunidades de investimentos que Cuba oferece.

De cada lado do espectro político afetado por essa divergência bilateral –que, na realidade, é global, posto que afeta as empresas de qualquer país que se relacionem com Cuba– foram manifestadas opiniões que vão desde a indignação com os editorialistas até a aprovação, evidenciando a complexidade dessa situação.

Não pode ser por acaso que a declaração contundente de um veículo tão influente venha à luz pouco antes de voltar a ser apresentada na Assembleia Geral da ONU a denúncia cubana dos efeitos do bloqueio para a ilha, que sem dúvida vai obter outra votação quase unânime em favor da queixa formulada por Havana.

Tampouco é por acaso que seja mencionada a Cúpula das Américas no Panamá, na qual a participação cubana se move como furacão no horizonte das relações dos Estados Unidos com os países da região. Muito menos fortuito é o fato de se falar da mudança das relações de Cuba com a União Europeia e de acordos concretos com outros países, entre os quais o Brasil é citado com precisão.

E não se deve deixar de enfatizar a mudança de opinião na comunidade cubano-americana, hoje mais favorável à normalização das relações com a ilha. Alguma coisa está acontecendo nos redutos políticos, sem dúvida alguma.

A sensatez vai se impor, finalmente, ou será mantida uma tensão extemporânea que afeta aos dois países, mas que tanto prejudicou a maioria dos cubanos, dificultando e complicando suas vidas? Definitivamente, Barack Obama tem a palavra e a oportunidade de dar um passo histórico.

Tradução de CLARA ALLAIN


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