Folha de S. Paulo


Holiday, o mais novo velho vereador da cidade

Karime Xavier/ Folhapress
Vereador Fernando Holiday (DEM/MBL) em seu gabinete
Vereador Fernando Holiday (DEM) em seu gabinete

Fernando Holiday (DEM) tem cumprido o papel a que se propôs, ser um vereador diferente do que havia na Câmara Municipal. Por isso desperta com frequência os instintos mais primitivos em vereadores e eleitores petistas, incomodados com o embaralhamento das cartas que consideravam suas: como pode o mais jovem da casa ser de direita? Estudante pobre não seguir a cartilha da UNE? Um negro não ser de esquerda? Um militante gay contra o PT?

Nas últimas semanas, no entanto, ao realizar "visitas surpresas" a escolas públicas cidade, o jovem teve seus dias de velho vereador, fazendo lembrar alguns dos momentos mais problemáticos da tradicional confusão entre Legislativo e Executivo.

Não é atribuição de vereadores fazer blitz em repartições ou órgãos do Executivo. A história recente da cidade está cheia de casos de conflitos de competências e acusações de irregularidades desse tipo. Boas intenções, como as de Holiday, já levaram muitos vereadores para o inferno político.

De vez em quando, legisladores fazem toda sorte de lambanças em depósitos de alimentos, de remédios, restaurantes, supermercados e estacionamentos. Geralmente, tiram funcionários da prefeitura de sua jornada regular, ganham notícias efêmeras e são esquecidos. Outros são investigados por acusação de acobertar achaques. Mas as ações efetivamente resultam em nada, simplesmente porque não são atribuição de vereador.

Holiday visitou escolas. Quem dá ou frequenta aulas sabe como um evento desses provoca distúrbios, tira concentração de professores e alunos. A "dona" de uma escola municipal é sua direção, que exerce a autoridade em nome do prefeito e dos pais. Uma diretora ou diretor de Emei deve evitar a entrada de vereadores, jornalistas, padres ou policiais que apareçam sem aviso e formalidade. Se não o fizer, qualquer bandido pode aparecer se fazendo passar por um desses profissionais para roubar, não mais atenção, mas bens e dinheiro.

Mas já pensou o que não faz um vereador barrado em sua performance? Pressionada, a direção da escola aceita a presença alienígena. Como se chama isso? Intimidação, constrangimento. Foram essas as palavras que o secretário Alexandre Schneider usou para dizer que o vereador abusou de sua competência. Estava correto.

E o que fez o jovem líder do MBL? Foi à tribuna e o acusou de irregularidades, baseando-se em notícias velhas, que o tempo já provou falsas. O jovem aprendiz de político se comportou como um velho vereador contrariado.

Só um pequeno detalhe separa o MPL, de esquerda, do MBL, de direita: uma pequena curva a mais, a barriguinha sutil que distingue o B do P. Os dois movimentos surgiram na mesma época, em 2013, movidos pela vontade de conquistar o mundo e mudar tudo num piscar de olhos.

O MPL, esquerdista, provocou a faísca que incendiou os protestos de 2013 e, qual uma ejaculação precoce, desapareceu em seguida. Amarga hoje o ostracismo na esquerda, por ter acendido o fósforo que milhões, em seguida, usaram para incendiar a estrutura do governo Dilma. Sem o protesto contra o aumento do busão, Dilma não teria perdido o rebolado e cometido a sucessão de erros que resultou no suicídio político, que alguns chamam "golpe".

Mais bem alicerçado no espírito do tempo pós-lulista, o MBL durou mais. Amarga, porém, quatro anos depois, o esgotamento da capacidade de mobilização popular: o movimento se mostrou impotente ao convocar as últimas manifestações de rua. E são as ruas lotadas que dão peso político a seus dirigentes. Sem povo na Paulista, Holiday tem que sair em busca de outro tema mobilizador.

É nesse contexto que Escola sem Partido se torna um bom programa: tem muita gente no país que desconhece educação e se encanta com essa ideia fascistóide (o argumento foi usado pela ditadura militar para cassar professores como Fernando Henrique Cardoso, por exemplo). Tentar derrubar secretários do prefeito mais badalado do país também pode ser uma demonstração de força do movimento: mesmo sem eco nas ruas, abala gabinetes!

Se, como dizia Lênin, o esquerdismo de movimentos como o MPL é "doença infantil do comunismo", o autoritarismo histriônico do MBL é uma infantilidade de direita. Vai bem na inconsequência dos palanques. Mas a função pública tem outras responsabilidades, como o compromisso com as atribuições de cada poder, a formalidade dos atos, a precisão das informações oficiais. São as chamadas liturgias do cargo. Sem elas, Holiday vai virar rapidamente mais um membro folclórico do centrão.


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