Folha de S. Paulo


Alckmin podia vender o Palácio dos Bandeirantes e governar no centro

Acervo UH/Folhapress
ORG XMIT: 284601_0.tif Inauguração do Pálacio dos Bandeirantes, a sede do governo paulista. (São Paulo, SP, 25.01.1965. Foto: Acervo UH/Folhapress)
O Palácio dos Bandeirantes foi comprado da família Matarazzo; em troca, o Estado perdoou dívida

Se vender o Palácio dos Bandeirantes e investir o dinheiro, o governador de São Paulo dará exemplo radical de redução de luxos e racionalidade administrativa numa época em que falta dinheiro e o país demanda cortes de gastos públicos. Além disso, fará uma aposta clara na recuperação do centro da cidade.

É simbólico que o Palácio dos Bandeirantes tenha sido desapropriado em 1964 e inaugurado como sede do governo paulista em 1965, quando o chefe do executivo era Adhemar de Barros, um dos líderes civis do movimento que derrubou o presidente João Goulart. Só um governo autoritário poderia investir tanto em seu gabinete.

O Bandeirantes é maior que a Casa Branca, em Washington, e que o Palácio de Buckingham, em Londres. É a expressão da megalomania de certa elite novo-rica, sedenta por afirmar em símbolos visuais a liderança econômica do país. A União tinha inaugurado Brasília quatro anos antes. São Paulo respondeu com o imenso mamute branco em distante bairro residencial, onde moravam os grandes milionários locais.

Naqueles distantes anos 1960, instalar o governo no Morumbi foi decisão semelhante à do governo de Minas mudar-se, em 2010, para a longínqua Cidade Administrativa, na periferia de Belo Horizonte. Aqui, como depois lá, a transação foi envolvida em acusações de mau uso do dinheiro público, frequentes na administração de Barros, identificado pela máxima "rouba mas faz".

Desde então, ao longo dessas cinco décadas, milhares de pessoas tiveram que se deslocar diariamente até o Morumbi para trabalhar ou se reunir com funcionários do gabinete. Além do imenso gasto de energia, a decisão contribuiu para o abandono do centro.

Nos primeiros anos, o próprio governador dormia no Palácio de Campos Elíseos (antiga sede do governo) e trabalhava no Bandeirantes (12km distante). Naquela época não havia tantos congestionamentos e o deslocamento era tranquilo, o cenário bucólico. Poucos anos depois, o trânsito se tornou infernal. O Bandeirantes ganhou uma ala residencial.

A ideia de voltar a administrar no Centro já é antiga no governo paulista. Em suas primeiras gestões (2001-2006), Alckmin despachava vários dias por semana no gabinete da rua Boa Vista, em prédio que concentra diversas secretarias. Ficou sempre a dúvida sobre onde implantar os órgãos que ainda funcionam no Morumbi e realizar as recepções e solenidades que fazem parte da liturgia do cargo de governador. Se quiser realmente mudar, essas coisas poderão ser feitas em prédios públicos de Campos Elíseos e equipamentos culturais centrais, como Memorial da América Latina, Pinacoteca e Sala São Paulo.

Toda vez que se fala da mudança, no entanto, surge a proposta de transformar o Bandeirantes em museu. Trata-se de ideia vencida: não faz sentido criar museus quando não há dinheiro para manter outros já existentes; e os centros culturais nem mesmo trazem os benefícios para o tecido urbano que se achava no passado (como prova a degradação da Luz apesar dos excelentes museus implantados por ali).

A única decisão que traz exclusivamente benefícios é vender o Palácio. A região tem hoje um imenso hospital (Einstein), que quase não cabe mais em seu terreno; é foco de inúmeros empreendimentos imobiliários; o país está cheio de universidades privadas cheias de dinheiro. Basta por uma plaquinha de "Vende-se" no portão e logo vão aparecer boas propostas que podem cobrir o rombo dos cofres estaduais por vários anos. E os outros benefícios ficarão para sempre.

ARQUITETOS DEFENDEM LEI CIDADE LIMPA

O Instituto dos Arquitetos (IAB) promove amanhã, em São Paulo, o seminário "Lei Cidade Limpa", com manifestações contrárias a projeto da Prefeitura da cidade, que quer permitir anúncios em bancas de jornal, e outras propostas de flexibilização da lei de 2006 que proibiu a publicidade externa. Com o subtítulo "As conquistas, os desafios e os interesses que ameaçam a Lei que mudou São Paulo", o evento está marcado para as 9h30, no auditório da entidade (Rua Bento Freitas, 306, Centro).

O evento tem por objetivo impedir que a Câmara Municipal aprove o projeto de Lei 236/16, apelidado "Banca SP", enviado pelo prefeito Fernando Haddad ao Legislativo em maio passado e aprovado em primeira votação em junho. Já tramitam na casa outras propostas de exceção à lei, como a que autoriza anúncios também em pontos de táxi.

No encontro, os organizadores pretendem divulgar um manifesto em defesa da rejeição do projeto "Banca SP".

FILMES E DEBATES SOBRE MOBILIDADE

Sexta-feira de manhã, a partir das 10h, será aberto no Centro Cultural São Paulo o Mobifilm, festival que, durante três dias, vai apresentar mais de 80 filmes e promover discussões sobre mobilidade. O evento começa com um ciclo internacional de debates organizado em conjunto com a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Pela manhã, uma palestra sobre Mobilidade; à tarde, o tema é a segurança no trânsito. E sábado e domingo, filmes e exposições.

Vão participar das palestras: o secretário municipal Jilmar Tatto; os vereadores José Police Neto e Nabil Bonduki; Rovena Negreiros, advogada e gestora pública da Fundação Seade; a arquiteta e urbanista Kelly Cristina Ferreira, especializada em transportes não motorizados; e as consultoras de urbanismo e mobilidade Anna Ferrer e Irene Quintáns, que compartilharão experiências internacionais, como na Espanha.

O Centro Cultural fica na rua Vergueiro, 1000 (Paraíso, centro), bem na frente da estação Vergueiro do Metrô. Um bom motivo para não ir de carro.


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