Folha de S. Paulo


Ponte de Haddad vai piorar o trânsito

Durante o segundo turno da campanha eleitoral, a Prefeitura de S. Paulo fez uma intensa campanha publicitária da gestão. Aproveitou-se de brecha legal para anunciar realizações de uma administração do PT a um eleitorado predominantemente contra a candidatura presidencial do partido.

Um dos anúncios mostrava a zona sul da cidade como um parque de obras viárias. Passada a eleição, convém tentar antecipar o sentido dos projetos anunciados.

As obras viárias em andamento na região sul incluem a construção de duas pontes sobre a marginal do rio Pinheiros para, alegadamente, melhorar o trânsito da região, aliviando a demanda sobre a ponte João Dias. A primeira ligará o bairro de Vila Andrade à rua Laguna, no Brooklin e, a menos de 2 km dali, a segunda ponte servirá aos moradores do Morumbi que querem cruzar o rio de carro em direção a Santo Amaro ou ao centro.

Trata-se de um enorme erro de planejamento urbano, mais do que isso, um desperdício de R$ 300 milhões em dinheiro público que poderia ser gasto com habitação popular, corredores de ônibus ou Metrô, enfim, formas realmente eficientes de melhorar a mobilidade.

Como já foi dito nesta coluna, novas obras viárias criam congestionamento. Carros que ficariam em casa são usados para aproveitar o benefício imediato da nova via. O impacto positivo tem duração conhecida: pouco mais de um ano. Em dois anos, a nova ponte estará tão congestionada quanto a João Dias e esta terá o mesmo engarrafamento de antes.

O paulistano viu esse filme recentemente. Basta lembrar quanto dinheiro foi gasto pelo governo do Estado para aumentar a oferta de vias em torno do centro de São Paulo. Pense como era congestionada a Marginal antes da ampliação e da abertura do Rodoanel sul, ambos em 2010. E agora veja como toda essa oferta adicional de vias já está congestionada.

Alguém dirá: mas a frota aumentou nesse período. Sim, mas cresceu menos que os congestionamentos.

Os estudos sobre o efeito chamado "trânsito induzido", amplamente conhecido no exterior e já aceito como verdade, mostram matematicamente como uma nova opção de rolamento gera congestionamentos, sem reduzir a demanda nas vias já existentes.

Se o trânsito é incentivado com a criação de novas ruas, inversamente, é possível reprimi-lo com o fechamento delas. Paris e Nova York têm como meta, por exemplo, fechar 30 km de ruas e avenidas a cada ano, tornando-as calçadões ou ciclovias.

Ao assumir, em 2013, o prefeito Fernando Haddad cancelou uma série de obras que estavam projetadas ou licitadas pela administração anterior. Parecia uma crítica ao investimento viário como solução para o trânsito. Desde então, a Prefeitura se revelou corajosa ao criar faixas de ônibus e ciclovias. Recebeu aplausos.

Agora, no entanto, como uma compensação para a minoria de carro-dependentes, gasta dinheiro em pontes cujo efeito para a mobilidade é o mesmo que jogar o dinheiro diretamente no lixo. Como dizia o decano da engenharia de trânsito Roberto Scaringella, vão apenas levar mais rapidamente um engarrafamento até o próximo engarrafamento.

Em vez de construir vias que criam "trânsito induzido", o "homem novo" anunciado em 2012, deveria fechar pontes e avenidas para reprimir o tráfego.


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