Folha de S. Paulo


Se pensar, vai de táxi

Ela não acreditou quando eu disse que é possível viver em São Paulo sem carro. Mesmo reclamando que seu trajeto diário da Mooca ao centro é um inferno na terra, que piorou muito com a abertura de faixas de ônibus em seu caminho, ela insistiu que não pensa em trocar o carro pelo transporte público.

Ao todo são 60 minutos para percorrer cerca de 9 km para ir ao trabalho e outros nove para voltar, percurso que poderia ser feito em 20 minutos (ida e volta) pelo metrô (um terço, portanto, do tempo perdido no carro). Isso sem contar o tempo que leva para estacionar...

Eu argumentei a respeito da linha vermelha, mas ela rebateu, disse ser muito lotada. Até tem razão. Mas ela pode alterar seus horários de viagem, já que essa linha costuma ser superlotada nos horários de pico. Sem contar que o percurso, mais rápido, lhe custaria, diariamente, R$ 6. Mas ela insiste que é incômodo, desconfortável.

Então, perguntei: e você já viu quanto economizaria se vendesse o carro e passasse a andar de táxi?

Ela me julgou insano: você está louco? Para ir de casa ao trabalho e voltar eu não gasto nem R$ 10 de gasolina, o táxi, só na ida, custa R$ 17, muito mais.

Foi aí que mostrei a ela que cometia um erro grave, apesar de comum aos corações e mentes dos motoristas paulistanos: estava deixando de fora da conta um monte de custos. A compra do carro, o IPVA, o estacionamento, a manutenção, o licenciamento, a depreciação do automóvel e o seguro, além do combustível.

O professor de economia da FGV Samy Dana fez essa conta e me enviou o cálculo de todos esses custos. Segundo Dana, um carro zero km ao preço aproximado de R$ 30 mil custa a mais, por ano, R$ 18 mil. Se minha amiga o substituísse pelo táxi gastaria anualmente, conforme os cálculos do professor, R$ 17.805, economizando quase R$ 200 por ano.

O mesmo vale para outros carros; quanto mais caro o automóvel e menor o caminho percorrido, maior é a economia ao substituí-lo pelo táxi. Quem não acredita pode acessar a tabela do professor da FGV nesta reportagem da Folha.

O valor poupado pode não parece ser tão significativo, mas, se investido, ou mesmo guardado no banco, o capital renderia juros. Se a motorista trocasse o veículo pelo transporte público, então, tal economia seria imbatível. Daria até para fazer uma viagem internacional por ano.

Fundamentalmente, o carro só é vantagem para quem anda mais de 20 km por dia na cidade. Se considerarmos as viagens pendulares que vão e voltam do centro de São Paulo, essas pessoas são como aquelas que habitam o Jabaquara, a Penha, o Morumbi e demais bairros que ficam a mais de 10 km da praça da Sé e arredores. Aqueles que andam menos que isso pouparão dinheiro se trocarem o automóvel pelo táxi. Além da economia, vale ressaltar que o conforto é inigualável: no táxi, podem falar ao celular sem preocupação, podem ir conversando com o motorista, até lendo ou trabalhando

Depois de toda a exposição, ela ainda me pareceu cética. Mas insisti que, de táxi, vai tornar produtivo um tempão que passa no trânsito, no qual é fadada a se angustiar ao enfrentar, diariamente, um horizonte engarrafado. E essa vantagem, embora não seja medida pela tabela do professor Samy Dana, não tem preço...


Endereço da página:

Links no texto: