A 48 horas da votação, um palpite sobre o plebiscito de separação do Reino Unido da União Europeia é puro chute: teria hoje, em média, 50% de chances de acerto ou 50% de erro.
As últimas pesquisas apontam para o crescimento da campanha contra o rompimento, mas o placar estaria apertado, de empate técnico. O estrategista eleitoral Lynton Crosby, um dos mais respeitados no país, disse ao "The Telegraph" na noite de segunda (20) que o resultado, no momento, é "incerto".
Fatores da campanha e de episódios recentes no país me levariam a apostar (a chutar, na verdade) que a maioria dos britânicos vai optar na quinta-feira (23) pela permanência no bloco europeu.
Arriscaria as fichas na tendência de grande parte dos indecisos (em torno de 10%) optar na última hora por um voto mais conservador, sob o temor do risco para a economia (como mostra reportagem de Fernanda Odilla, de Londres, nesta terça (21) na Folha), em meio a um desemprego atual de apenas 5,4% e uma inflação de 0,5%, além da incerteza no campo político diante da saída do bloco e do prazo estimado de dois anos para que a decisão seja totalmente implementada.
Soma-se a isso o fato de que já haveria entre os chamados "votos definidos" uma ligeira vantagem a favor da aliança com a UE.
Gareth Fuller/AFP | ||
Premiê britânico, David Cameron, com xícara que diz "estou dentro", em alusão ao plebiscito |
Comportamento eleitoral semelhante ocorreu na votação de 18 de setembro de 2014, quando a Escócia decidiu permanecer no Reino Unido.
Obviamente o contexto e os efeitos de uma separação do bloco europeu são muito mais complexos do que a separação escocesa, mas a comparação é pertinente.
As pesquisas em 2014 mostravam um placar apertado nas semanas que antecederam aquela consulta. O instituto "YouGov", um dos mais tradicionais do país, apontava na véspera 52% de votos pelo "não" (contra a separação) e 48% pelo "sim" - sem considerar os indecisos, em 6%.
Na noite anterior, as ruas da fria e belíssima capital Edimburgo confessavam cada vez mais o medo do que estaria por vir numa eventual ruptura com Londres.
O medo então venceu. A campanha do "não" deslanchou e o placar foi de 55% a 45% contra a independência escocesa.
É fato também que o clima de comoção com o assassinato na semana passada da deputada trabalhista Jo Cox, ativista pró-UE e pró-imigração, tem revelado força para ao menos neutralizar a campanha pela separação.
Restaria aos simpatizantes do "Brexit" (expressão para a saída do bloco) torcer para uma presença em peso dos eleitores mais velhos, sobretudo dos acima de 55 anos, em sua maioria a favor do rompimento.
Não é pouca coisa. Como o voto não é obrigatório, uma taxa alta de abstenção dos jovens, que se mostram menos interessados no plebiscito, pode influenciar no resultado.
Até quinta-feira, o debate vai se acirrar. Em artigo publicado na noite passada no site do "The Guardian" (jornal declaradamente contra a separação), o megainvestidor George Soros faz um alerta sobre os riscos para a economia britânica em caso de ruptura com o bloco.
Para ele, a poderosa libra esterlina corre sério risco de se desvalorizar de 15% a 20%. "Isso teria também um imediato e dramático impacto sobre mercados financeiros, investimentos, preços e empregos", diz Soros.
Matthew Elliott, que comanda a campanha contra a permanência na UE, acusou Soros de jogar a favor do bloco europeu, a quem acusa de causar prejuízo econômico aos britânicos.