Folha de S. Paulo


'Tomei decisão condizente com minha história', diz ex-ministro

Horas depois de deixar o governo interino de Michel Temer, Fabiano Silveira mostrava-se aliviado, mas também um tanto abalado com a enrascada que se meteu em apenas 18 dias como ministro da Transparência, Fiscalização e Controle.

"Tomei uma decisão condizente com minha história de vida", me disse, no fim da noite. Ele fez questão de frisar que saiu por "foro íntimo" mesmo após Temer bancar sua permanência.

Foi por volta das 18h30 desta segunda (30) que Silveira decidiu de vez pela demissão.

Caminho sem volta, concluiu a carta de despedida, telefonou para Temer e a enviou, por e-mail.

Silveira ficou com o segundo lugar na categoria "passagem meteórica" pela Esplanada de Temer, perdendo só para Romero Jucá, medalha de ouro pelos 11 dias de ministro do Planejamento.

Ambos foram pegos falando demais em gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que fechou acordo de delação premiada em investigação ligada à Lava Jato.

A decisão de Silveira pode parecer contraditória diante do telefonema que recebeu de Temer pouco antes das 17h.

Na conversa, o presidente reafirmou ao então ministro a versão divulgada à imprensa de que decidira mantê-lo apesar da repercussão negativa dos áudios de Machado em que Silveira faz críticas à Lava Jato em conversa na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O gesto de Temer indicava que o ministro ficaria, mas era a senha que Silveira desejava para sair do governo por decisão pessoal, sem o risco de ser demitido num eventual (e provável) agravamento da crise. Sabia que poderia se transformar num "morto-vivo" de um governo interino.

Tão delicada quanto a primeira gravação era uma segunda em que o presidente do Senado afirmou que Silveira trouxera informações do Ministério Público ligadas à investigação contra ele, Renan.

Consultor de carreira do Senado, o ex-ministro minimiza as manifestações de servidores da CGU por sua saída. Diz que não tiveram qualquer influência em sua decisão. Nas reuniões durante a segunda-feira, argumentou que era muito mais uma pressão de setores do PT preocupados em desgastar o governo do que realmente dispostos a retirá-lo do cargo.

De perfil técnico e com pouca bagagem política, o ex-ministro sai de cena com o indesejado "carimbo" de indicado de Renan. É evidente - e após as gravações, mais evidente ainda - a sua boa relação com o alagoano, mas o papel de Romero Jucá pesou muito para que virasse ministro.

Na madrugada da votação do Senado que afastou Dilma Rousseff, em 12 de maio, por exemplo, Silveira encontrou-se com o senador no plenário da Casa. Horas mais tarde, seriam empossados ministros no Palácio do Planalto.

Jucá, aliás, atuou nos bastidores para tentar evitar a queda dele. Disse para a equipe de Temer que seria um erro político entregar mais uma cabeça em razão dos grampos de Sérgio Machado. A demissão de outro ministro mostraria, na avaliação do senador e de outros aliados do PMDB, fraqueza, acusaria o golpe da crise e, sobretudo, o risco de o governo interino se transformar de vez em refém das gravações do ex-presidente da Transpetro.


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