Folha de S. Paulo


Lula ainda precisa explicar o guarda-móveis bancado pela OAS

É possível resumir em menos de 140 caracteres a principal novidade da 24ª fase da Lava Jato: uma empreiteira acusada de tomar dinheiro da Petrobras pagou pela armazenagem de parte do acervo de um ex-presidente da República.

Revelou-se na sexta-feira (4) que a OAS gastou R$ 1.292.210,40 com um guarda-móveis na Granero para proteger bens ligados ao período de Lula no Palácio do Planalto. Foram cinco anos de despesas mensais, entre janeiro de 2011 e janeiro de 2016.

Até agora, Lula não negou, mas pouco explicou publicamente.

Seu instituto disse, por meio de nota, que a mudança, de Brasília para São Paulo, foi providenciada pela Presidência da República logo após o término do mandato no Palácio. No pronunciamento que deu sexta (4), após depor à Polícia Federal, Lula se gabou : "Sou o presidente que mais ganhou presentes". Mas não falou do presente da OAS.

Lula talvez argumente que tudo não passou de uma doação da empreiteira ao seu instituto, uma contribuição à preservação do acervo colecionado durante os dois mandatos presidenciais.

É uma versão hipotética que ainda assim requer mais explicação: segundo a investigação, o contrato entre a empreiteira e a Granero diz que o serviço fora contratado para "armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativa de propriedade da Construtora OAS Ltda".

Ou seja, no papel, o material não era de Lula, mas da OAS. Nas palavras da Procuradoria, uma "falsa premissa" para "ocultar a origem e natureza da vantagem indevida". Por que esconder?

Braço direito do petista, Paulo Okamotto, hoje presidente do Instituto Lula, foi quem intermediou a "operação guarda-móveis" –a própria Granero confirmou a participação dele. Okamotto comandou ainda a retirada do material do galpão da empresa em janeiro deste ano.

"Não pairam dúvidas sobre a atuação ilícita de Paulo Tarciso Okamotto", diz a página 87 do relatório da 24ª fase da Lava Jato. Para os procuradores, "há evidências de que Lula recebeu vantagens indevidas (...), com adoção de práticas lavagem de dinheiro, com ocultação e dissimulação de origem, natureza e propriedade de bens e recursos".

O ex-presidente insiste na defesa de que o sítio de Atibaia, que teria sido reformado por duas empreiteiras (OAS e Odebrecht), não é dele, apesar de evidências reveladas pela imprensa (incluindo a Folha) e pela Lava Jato. O petista sustenta sua versão na escritura da propriedade, em nome de amigos.

De posse de argumentos parecidos, alega que não é o dono do tríplex de Guarujá –embora, novamente, evidências não faltam do contrário.

O enredo do guarda-móveis não comporta essa estratégia de defesa. Afinal, não pertence a terceiros o acervo presidencial armazenado às custas de uma empreiteira.


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