Folha de S. Paulo


Compre bitcoins

Benoit Tessier/REUTERS
Bolsas de bitcoin na China vão adotar tarifas sobre transações
A moeda virtual bitcoin era considerada maluquice de libertários e, hoje, já atrai investidores

"Não compre bitcoins", disse o colunista Ronaldo Lemos na Folha de 3/7. A moeda digital valia então US$ 2.500; nesta semana ultrapassou US$ 4.600. E muita gente acha que ainda está barata, está uma pechincha.

Para ser justo com o colega, é preciso conceder que Lemos deixou claro ser um entusiasta do bitcoin e apontou com precisão as incertezas que há dois meses rondavam a tecnologia. Em julho, a falta de consenso sobre modificações no código do bitcoin afastava compradores.

Mas esses temores passaram em agosto, quando uma modificação deu mais velocidade às transações de bitcoin. Desde então cada vez mais gente descobre que as criptomoedas são versões digitais de metais preciosos.

Um simples grama de ouro vale R$ 130 devido a duas características: escassez e confiança. A quantidade do metal é naturalmente limitada —estima-se que todo o ouro já minerado no mundo cabe num cubo de 21 metros de aresta.

Como o ouro, o bitcoin é escasso por natureza. Quanto mais é minerado, mais difícil se torna minerá-lo. Não há um banco central encarregado de emitir bitcoins, por isso não existe o risco de um político inflacionista ligar a máquina da moeda para estimular o consumo do país ou financiar a construção de uma capital nacional no meio do Cerrado.

A superioridade atual do ouro em relação ao bitcoin se baseia na tradição. O ouro apoia em milênios de reconhecimento como uma reserva de valor. Já o bitcoin, até dois ou três anos atrás, era considerado uma maluquice de libertários da Califórnia e de traficantes da deep web.

Mas à medida que a moeda cai no gosto de um público mais amplo, atinge valores estratosféricos. A alta de 460% desde o início de 2017 é provavelmente resultado de compras realizadas por investidores institucionais. Esse movimento só está começando. Imagine quando gestores fundos de pensão e multimercado perceberem a necessidade de incluir criptomoedas em suas carteiras.

Ainda mais aterrorizante: imagine quando bancos centrais começarem a comprar bitcoins para incluí-los no portfólio de reservas internacionais.

Os bitcoins em circulação valem hoje US$ 76 bilhões (mais ou menos a fortuna de Bill Gates, o homem mais rico do mundo). Isso equivale a 1% da capitalização do ouro (cerca de US$ 7,5 trilhões). Se o preço do bitcoin se multiplicar por dez, seu mercado ainda será um décimo do ouro. Se algum dia bater a capitalização desse metal, cada um dos 21 milhões de bitcoins valerá mais de US$ 300 mil. E aí, você ainda acha que o preço do bitcoin está alto demais?

Digo isso e já mordo a língua. Depois de uma alta tão intensa, é bem possível que uma correção aconteça nas próximas semanas ou meses. Por mais consistente que o bitcoin seja, não está imune à euforia de investidores, à formação de bolhas e ao pânico diante de quedas do preço.

Mas no longo prazo, descontados os solavancos, é razoável acreditar que o preço do bitcoin vai para o espaço. Daqui uma ou duas décadas, seu filho não vai acreditar quando você contar a ele que um bitcoin custava míseros US$ 4.600.


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