Não tenho a menor ideia se João Doria será um bom prefeito de São Paulo. Mas o pouco que sei sobre ele é o bastante para considerá-lo o melhor candidato tucano à presidência. Doria não está manchado pela Lava Jato, é muito bom de marketing e tem mais habilidade social e capacidade de unir a direita que Aécio Neves ou Geraldo Alckmin.
Aécio mal consegue ganhar uma eleição em Minas Gerais. Foi derrotado por Dilma em seu próprio Estado; seu candidato a prefeito perdeu para um cara do PHS.
Mesmo se escapar do inquérito solicitado pelo procurador Rodrigo Janot, Aécio terá a imagem manchada pelas notícias que o relacionam à Lava Jato. Não será renovação, e sim mais do mesmo.
Já Alckmin, na eleição de 2006, conseguiu a proeza de ter menos votos no segundo turno que no primeiro. O trauma da derrota deveria ser suficiente para ele nunca mais disputar a Presidência.
Naquela campanha, Lula o acusou de privatizador. Alckmin caiu no jogo. Cena patética, apareceu vestido com um boné do Banco do Brasil e jaqueta repleta de logomarcas de estatais, o que só deu força à acusação de Lula.
Doria faria diferente em 2006. Chamaria privatização de "desestatização para o povo" e anunciaria a partilha das ações das estatais entre os brasileiros.
Por muito tempo o PSDB foi uma oposição amestrada, que corria atrás da agenda pública imposta pelo PT. Comportamento raro entre os tucanos, Doria não tem medo de marcar posição e impor sua agenda. Diz sem medo que fará o "maior programa de privatização da história de São Paulo".
Essa coragem entusiasma a direita. Quem votaria em Bolsonaro ou em Ronaldo Caiado fica mais tentado a voltar para o PSDB. Doria tem mais chances de unir direita xucra, a direita moderada e a direita festiva.
Alckmin, com aquela cara de engenheiro, de picolé de chuchu, é o avesso do Rio de Janeiro ou do Nordeste. A imagem de anti-brasileiro cola muito bem nele. Entre um poste e Alckmin, cariocas e nordestinos votarão em peso no poste.
Já Doria tem mais carisma e habilidade social. Conciliador, vai andar de bicicleta com os cicloativistas. Tem um toque de Berlusconi, de Silvio Santos. Dá entrevista vestido de gari, aparece de madrugada varrendo o lixo deixado pelos blocos de Carnaval. Lembra também Boris Johnson, o ex-prefeito de Londres que faz um tipo conservador fanfarrão e sincericida.
Alckmin, Aécio: deixem de lado essa fixação com a presidência. Muito mais divertido ser conselheiro do presidente, talvez embaixador em Roma ou Nova York. Presidentes ficam tempo demais sob holofotes —e João Doria gosta muito mais de holofotes que vocês.