Folha de S. Paulo


Globalização financeira eleva desigualdade

Brendan McDermid - 25.jan.17/Reuters
A screen shows the Dow Jones Industrial Average after it passes the 20,000 mark shortly after the opening of the trading on the floor of the New York Stock Exchange (NYSE) in New York, U.S., January 25, 2017. REUTERS/Brendan McDermid ORG XMIT: NYK503
Operador na Bolsa de Valores de Nova York

No artigo "The Aggregate and Distributional Effects of Financial Globalization", publicado em setembro, os economistas do FMI Davide Furceri, Prakash Lungani e Jonathan Ostry investigaram os efeitos da globalização financeira sobre o desempenho e a distribuição de renda nos diferentes países.

Ao contrário do que prevê a teoria econômica convencional, o estudo apontou que os efeitos sobre o crescimento de abrir a economia para a maior entrada e saída de capitais financeiros são, em média, limitados. Ao mesmo tempo, concluiu que a liberalização financeira amplia desigualdades de renda de forma significativa.

Tais resultados variam muito, a depender dos aspectos institucionais de cada país. Os efeitos da liberalização sobre a desigualdade e o produto parecem ser mais nefastos em países com sistemas financeiros menos desenvolvidos e inclusão financeira menor.

Os autores mostram ainda que a abertura financeira reduz a parcela da renda nacional que é destinada aos salários, sobretudo em indústrias com alta dependência de financiamento externo.

A conclusão é que "países onde a redução da desigualdade é um objetivo de política importante podem precisar moldar a liberalização de modo a equilibrar seu impacto sobre a equidade contra os outros efeitos".

Em particular, os autores sugerem a restrição a certos fluxos de capitais, tais como os fluxos especulativos com carry-trade, que visam apenas obter retorno com juros mais altos, ou os fluxos que exacerbam booms pouco saudáveis no preço de ativos e no crédito.

O estímulo à entrada de capitais deveria ser direcionado, ao contrário, àqueles fluxos financeiros que levam ao aumento sustentado do crescimento, tais como investimentos de longo prazo na construção de novas unidades produtivas.

No Brasil, há evidências de que os fluxos especulativos de capitais aumentam a volatilidade do real e acabam atuando como causa adicional para as nossas altas taxas de juros. Dados a elevada concentração de riqueza e o baixo grau de inclusão financeira no país, isso certamente contribui para ampliar desigualdades.

O estudo de Pedro Rossi apresentado no livro "Câmbio e Política Cambial no Brasil" aponta, por exemplo, para a necessidade de regular o mercado de derivativos e implementar controles simétricos sobre a compra e a venda de contratos futuros de dólar.

A dificuldade é que mudanças desse tipo devem ser feitas em meio a um contexto internacional favorável, de forte entrada de capitais. Caso contrário, uma fuga de capitais poderia inviabilizar a estratégia.

A entrada de investidores estrangeiros interessados em retornos de curto prazo no último ano vem servindo, de novo, para prover o governo de frases comemorativas sobre a alta na Bolsa de Valores, a valorização do real e a inflação baixa.

Mais uma vez, como em outros momentos dos anos 2000, esquece-se de que, na porta giratória do sistema financeiro internacional, os capitais especulativos que entram em manada também costumam sair em manada. Com a elevação da taxa de juros nos EUA, há previsões de que isso aconteça em diversos países periféricos ainda em 2018.


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