Folha de S. Paulo


Trump aprova reforma que ampliará desigualdades

Jonathan Ernst/Reuters
U.S. President Donald Trump, flanked by Interior Secretary Ryan Zinke, Secretary of State Rex Tillerson, and Defense Secretary James Mattis, holds a cabinet meeting at the White House in Washington, U.S., December 20, 2017. REUTERS/Jonathan Ernst ORG XMIT: WAS923
O presidente Donald Trump em reunião na Casa Branca

Na primeira grande vitória do governo Trump, o Congresso americano aprovou nesta quarta-feira (20) um pacote de redução de impostos de US$ 1,5 trilhão, que causará a maior mudança no sistema tributário feita no país desde 1986.

"Essa é uma das peças legislativas mais importantes que esse Congresso passou em décadas (...) Esse é um bom dia para os trabalhadores... e um ótimo dia para o crescimento", celebrou o republicano Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes.

Em relatório publicado na segunda-feira (18), o Tax Policy Center concluiu] que, em um primeiro momento, a reforma reduzirá impostos para todas as faixas de renda, elevando a renda disponível média em 2,2% em 2018.

Mas, para cumprir os requisitos legais associados ao impacto neutro do plano sobre as contas públicas, essa redução terá de ser cada vez menor ao longo do tempo, chegando a apenas 0,2% em 2027.

Ao longo de todo esse período, a distribuição dos ganhos não será nada igualitária. Enquanto a redução de impostos para os contribuintes da base da pirâmide (20% mais pobres) será em média de 0,4% da sua renda em 2018, os 20% mais ricos pagarão 2,9% da sua renda a menos em tributação.

Entre esses, o maior ganho será dos contribuintes situados entre os 95% e os 99% mais ricos, que pagarão 4,1% da renda a menos em impostos. O 1% mais rico, por sua vez, reduzirá sua contribuição em 3,4% da renda inicialmente.

Em 2027, os contribuintes da base e do meio da pirâmide já estariam pagando o mesmo em impostos do que pagam hoje ou até um pouco mais, em média. Já os contribuintes no 1% mais rico continuariam pagando 0,9% da sua renda a menos em tributação, de modo que responderiam por 83% do benefício total concedido naquele ano.

Além disso, uma análise da Comissão Mista de Tributação do Congresso projetou que, mesmo levando em conta o potencial estímulo ao crescimento econômico, o plano irá acarretar um aumento substancial do deficit do governo americano na próxima década.

Possivelmente, o ajuste se dará com uma redução nas despesas com Medicare, Medicaid e outros itens que compõem a frágil rede de proteção social do país.

Não é à toa, portanto, que, na contramão do que sugeriu Paul Ryan em suas declarações, uma pesquisa de opinião divulgada pela CNN na terça-feira (19) indicou que 66% dos americanos acreditam que o plano beneficiará mais os mais ricos do que a classe média.

A aprovação do plano veio menos de uma semana depois da publicação do "World Inequality Report", por Thomas Piketty, Emmanuel Saez e demais pesquisadores da World Wealth and Income Database.

O relatório mostrou, por exemplo, que desde a eleição de Ronald Reagan nos Estados Unidos, em 1980, os 50% mais pobres se apropriaram de apenas 3% do crescimento econômico acumulado no país.

Como mostra um dos cenários das projeções apresentadas no fim do estudo, mesmo com o crescimento maior da renda em países como China e Índia, se todos os países reproduzirem a trajetória de aumento da desigualdade observada nos EUA desde 1980, o 1% mais rico da população mundial aumentaria sua parcela da renda global em oito pontos percentuais até 2050.

Ou seja, se o mundo seguir o péssimo exemplo dos Estados Unidos nas próximas décadas, o 1% mais rico se apropriará de 28% da renda global.

A título de referência, essa é a parcela apropriada atualmente pelo 1% mais rico no país com maior concentração de renda nessa faixa entre os que constam do relatório: o Brasil.


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