Folha de S. Paulo


Discurso no velório de Marisa escancarou perversidade de Lula

Nacho Doce - 4.fev.2017/Reuters
Former Brazilian president Luiz Inacio Lula da Silva cries next to the priest and supporters in the wake of Marisa Leticia, the wife of him, in Sao Bernardo Do Campo, near Sao Paulo, Brazil February 4, 2017. REUTERS/Nacho Doce ORG XMIT: NAC11
Ex-presidente Lula no velório de Marisa Letícia

A moral dos petistas é diferente. Desde o escândalo do mensalão, quando criminosos condenados foram chamados pela militância do partido de "guerreiros do povo brasileiro", ficou claro que, para eles, os fins justificam os meios.

Roubaram? Sim, mas não tem problema; foi para sustentar um projeto de poder em prol dos mais pobres. Lula, ao usar o caixão de sua mulher como caixote de comício, mostrou de maneira cristalina quão perversa é essa moral flexível.

Lula começou seu discurso destacando quão importante foi o sindicato para a sua carreira: "Aqui eu aprendi a falar (...), aqui nós pensamos em criar a CUT, aqui nós pensamos em criar o PT". E por aí foi. E a Marisa? Ah, ela foi uma companheira de partido que "sustentou a barra" para que Lula ascendesse politicamente.

Aos risos, o ex-presidente se orgulhou de nunca ter visto o parto de nenhum de seus filhos, narrando um episódio em que largou Marisa, prestes a parir, num pronto-socorro para ir a uma reunião da diretoria do sindicato, só se lembrando da mulher na manhã seguinte, quando seu filho já havia nascido.

Do bom humor, Lula partiu para o ódio. Disse que Marisa ajudou a construir o partido que "a direita quer destruir", e que morreu triste por causa de uma "canalhice", de pessoas que estariam "levantando leviandades" contra ela. "Moro bandido!", gritou um militante, verbalizando o espírito de rancor que o presidente passava nas entrelinhas.

Lula termina dizendo que não tem medo de ser preso, que sua consciência está tranquila e, por fim, que está sendo vítima de mentiras. O que era para ser um velório se tornou um comício. O que seria um momento de profunda tristeza e solidão para qualquer pessoa normal foi usado como mero combustível para a desmoralizada militância petista.

"Lula, guerreiro do povo brasileiro!", berrava a militância no fim do discurso. Já se passaram mais de 10 anos desde o escândalo do mensalão. A mentalidade doentia do petismo não mudou. E daí que ele usou a morte da esposa como palanque? Foi para reviver um projeto de poder em prol dos mais pobres.

Pelo poder, Lula transformou corrupção em método de governo. Pelo poder, Lula sacrificou até a própria humanidade. Pelo poder, Lula criou a falsa dicotomia entre a moral do chão de fábrica do ABC e a moral "das elites".


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