Folha de S. Paulo


Petistas lamentam a queda de Cunha 

Divulgação
Kim Kataguiri (sentado, de branco) com Eduardo Cunha e parlamentares pró-impeachment de Dilma
Kim Kataguiri (sentado, de branco) com Eduardo Cunha e parlamentares pró-impeachment de Dilma

"E o Cunha?", essa foi a pergunta que mais ouvi de jornalistas e militantes petistas depois que o pedido de impeachment de Dilma Rousseff foi acolhido. Nunca me perguntaram sobre o lamaçal de corrupção dos governos petistas, nem sobre os milhões de desempregados ou outros tantos que foram jogados na miséria. A cegueira ideológica os impedia de enxergar a catástrofe. Apesar disso, na mente deles, o cego era eu.
 
O primeiro contato que tive com Cunha foi no dia 27 de Maio de 2015. Partindo de São Paulo, andei, junto com colegas de movimento, mais de 1.000 km, e, depois de 33 dias, finalmente havia chegado a Brasília para protocolar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff. E foi no ato do protocolo que a famosa foto que –a meu pedido– ilustra este artigo foi tirada.
 
Como muitos de vocês devem saber, essa foto é frequentemente utilizada por viúvas do petismo para me atacar, me tachar de "amigo do Cunha". O fato é que a única pessoa que pode receber uma denúncia de crime de responsabilidade contra um presidente da República é o presidente da Câmara dos Deputados. Se, na ocasião, o presidente da Câmara fosse o Lula, teria protocolado o documento com ele.

O MBL nunca manifestou nenhum tipo de apoio ao ex-deputado. Pelo contrário: na manifestação do dia 13 de março de 2016 –a maior da história do país–, como em outras, discursamos e protestamos não apenas pelo impeachment de Dilma Rousseff, mas pela cassação e prisão de Eduardo Cunha. Os petistas, por outro lado, parecem se esquecer que, durante anos, ajudaram e foram ajudados por Eduardo Cunha. Em 2010, Cunha salvou Dilma Rousseff fazendo campanha para a então candidata em igrejas evangélicas, discursando sobre quão conservadora e temente a Deus ela era.
 
Depois que se tornou inimigo do PT, Cunha se transformou numa espécie de saída honrosa para o discurso petista. Sempre que um militante vermelho era confrontado com o fato de que o seu partido é o mais corrupto da história do país, respondia com um simples: "Ah, tá bom! Mas e Cunha?", â€“afinal, se Cunha é corrupto, os petistas podem cometer crimes à vontade.
 
Até para a narrativa do "golpe" ele contribuiu. José Eduardo Cardozo, que advogou em defesa de Dilma Rousseff, chegou até a tentar criar uma mística em torno do acolhimento da denúncia. Em discurso, sustentou que todo o processo estaria maculado por causa de um "pecado original", já que, formalmente, quem deu início a ele foi Cunha, um político corrupto.
 
Ora, Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara que conduziu o processo de impeachment de Collor, foi cassado posteriormente. Não vemos nenhum petista dizendo que o impeachment de Collor foi golpe.
 
A verdade é que a cassação de Cunha entristece os petistas porque enfraquece a sua narrativa. Eles perdem um algoz para culpar por todas as mazelas do mundo e fazer seus crimes parecerem um pouco menos graves. Eles perdem o discurso de que o impeachment foi um grande acordão para salvar Cunha e parar a Lava Jato. Eles perdem o seu malvado favorito.
 
Para os tolos que acham que me constrangem com a foto do protocolo de pedido de impeachment de Dilma Rousseff, ficam as vitórias dos milhões de brasileiros que pintaram as ruas de verde e amarelo contra a corrupção. Dilma caiu. Cunha caiu. Outros também cairão. Não me arrependo de nada. Faria tudo novamente.
 
Apesar de vocês, há quem defenda a democracia, a decência e a liberdade.


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