Folha de S. Paulo


Festa brasileira, velório petista

Três milhões e seiscentas mil pessoas em todo país. 1,48 milhão só na cidade de São Paulo. A maior manifestação da história do país. O governo, que batia no peito para dizer que as ruas estavam vazias e que a indignação diminuía, levou um histórico "cala-boca" da população.
 
Nunca havia visto tanta esperança e vigor nos olhos das pessoas como vi na manifestação do último domingo (13). Os manifestantes tinham uma clara perspectiva de mudança no cenário político, e isso é algo inédito.
 
O que se falava nos discursos era de um futuro pós-Dilma, pós-PT. Não foi necessário criticar o PT ou o governo. Todos já conhecem muito bem os problemas do país. A novidade está no fato de que agora, mais do que nunca, o impeachment parece inevitável. Ao contrário do que o petismo quer nos fazer acreditar, a sociedade não está dividida; pelo contrário, o sentimento é unânime: o governo já acabou.
 
A expectativa de mudança, ao que tudo indica, será atendida. O governo ficou absolutamente atordoado com os protestos. Em nota oficial, tudo o que conseguiu afirmar foi que os atos ocorreram de maneira absolutamente pacífica.
 
É óbvio que foram ordeiros. Quebra-quebra é coisa de criminoso que esconde o rosto e pratica terrorismo em nome de uma rebeldia a favor. Violência é prática de militantes que dizem defender a democracia, mas agridem profissionais da imprensa, pregam discursos de ódio e perseguem opositores políticos. Coisa de verdadeiros fascistas vermelhos.
 
Falando sobre os impactos práticos das manifestações, nessa semana, o Congresso Nacional vai ferver. Os milhões de brasileiros nas ruas deram uma força gigantesca aos parlamentares que defendem o impeachment. A base aliada, por sua vez, sofreu uma pressão sem precedentes. As manifestações fizeram cair a ficha de todos os políticos da base aliada que ainda tinham alguma esperança na sustentação ao governo de Dilma Rousseff.
 
A situação ficará ainda mais desfavorável ao Planalto depois da manifestação pró-governo que está marcada para a próxima sexta-feira (18). A tentativa de demonstrar força num momento de agonia acabará complicando ainda mais a situação do governo, que já é insustentável. Não há como o PT colocar na rua a mesma quantidade de pessoas que se manifestaram pelo impeachment no último domingo. Quem, no atual momento político, se sujeita a defender os crimes protagonizados pelo PT só pode ser militante. E a militância de um partido nunca será maior que a sede de mudança de toda uma nação.
 
Em meu discurso na manifestação do último domingo (13), disse que o governo já estava morto, que nós só estávamos enterrando. Eu me enganei. Quem fará o enterro serão os próprios defensores do petismo. Nessa sexta-feira (18), os próprios militantes pró-governo organizarão o velório. O último a sair que assopre as velas.


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