Folha de S. Paulo


Sair às ruas, entrar para a história

O PT nunca viveu momento tão desesperador. As explosivas revelações da delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e a Polícia Federal batendo à porta de Lula foram os mais duros reveses que o partido sofreu em sua história. As manifestações pró-impeachment marcadas para o dia 13 de março, alimentadas pelo momento político e pela crise econômica, têm tudo para ser maiores do que os protestos do ano passado.

É a tempestade perfeita. A maior dificuldade que movimentos como o MBL, do qual faço parte, tinham para mobilizar a população desapareceu na última semana.

A insatisfação da maioria esmagadora da população com o governo Dilma já estava consolidada por causa do desastre econômico de 2015 e das revelações da Operação Lava Jato. O problema é que essa insatisfação estava se tornando desesperança.

A sociedade não tinha perspectivas de mudança no cenário político. Com os acontecimentos recentes, o impeachment voltou a ser o rito necessário, sem o qual o país não se reconcilia com o seu futuro. Além disso, é uma clara vitória para as instituições o fato de que Lula, finalmente, não está acima da lei.

A delação de Delcídio amarrou alguns fios que pareciam soltos no petrolão. Era o que faltava para que parlamentares, empresários e setores organizados da sociedade civil descessem do muro. O impeachment não é "a" solução. Mas não há solução sem impeachment.

Para Lula, as revelações, somadas à mais recente fase da Operação Lava Jato, foram ainda mais destrutivas. No caso do mais ilustre de todos os petistas, não há precedente que sirva de comparação. Nossa democracia já viu um presidente passar por um processo de impeachment, mas nunca viu um ex-líder de tal envergadura ser tão humilhado por suas próprias escolhas.

O fato é que agora temos a oportunidade de fazer ruir o império da quadrilha que transformou o Estado brasileiro numa máquina de financiamento de um projeto de poder. Apesar da militância inflamada, o PT nunca esteve tão fraco.

As ameaças seguem o padrão conhecido: "Vamos colocar o exército do Stedile nas ruas!"; "Pegaremos em armas para defender o governo se preciso for!"; "O enfrentamento vai ser nas ruas!"...

Essa linguagem de resistência, hoje em dia, não passa de um teatrinho encenado por grupelhos que se transformaram em repartições da burocracia petista, alimentados com dinheiro público. MST, UNE, CUT e MTST são apenas siglas que contam a história da impostura. Quem sabe, fora do poder, consigam encontrar um pouco de dignidade ao menos, já que não há milagre que possa lhes corrigir a pauta deformada.

Temos de resgatar aquilo que o petismo nos roubou. E não me refiro apenas aos bilhões de reais subtraídos do Estado. Falo das nossas instituições e da integridade da nossa democracia.

Há mais de uma década, vivemos sob a ditadura da propina. Os Três Poderes perderam sua independência. A República tornou-se propriedade de um partido político. Quando os petistas dizem que não inventaram a corrupção, falam uma verdade ao menos. O que não admitem é o fato de que o partido é o único que, além de saquear os cofres públicos, saqueia as instituições democráticas.

Dia 13 de março estarei nas ruas para tomar de volta aquilo que me foi roubado. Espero que você, caro leitor, esteja também. O lema escolhido para as manifestações, "Ou você vai, ou ela fica", não é uma mera frase de efeito. Tampouco é mera dramatização da realidade. Trata-se da constatação de um fato.

O governo Dilma é um dragão muito ferido, mas ainda é um dragão. Se não aproveitarmos o momento para aniquilá-lo, segundo os instrumentos que a democracia oferece, continuará a cuspir fogo nas instituições, mesmo agonizante. Quanto mais destruição causar, mais difícil será a reconstrução.

Governos não caem de podre mesmo quando podres. Dilma ainda está com a caneta na mão. Cabe a nós ir para a rua no dia 13 de março e escrever um futuro diferente com a tinta que resta.


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