Folha de S. Paulo


Petróleo e ferro

O "Financial Times" reportou esta semana que a China ultrapassou os Estados Unidos como maior importador de petróleo cru. Dados alfandegários chineses demonstram que as aquisições de petróleo do país no exterior atingiram um pico histórico de 7,4 milhões de barris diários em abril. O total excede os 7,2 milhões de barris diários de importações dos Estados Unidos. A mudança surgiu em parte pelo aumento das importações da China Oil junto ao Irã, Omã e Abu Dhabi. O Irã pode ter oferecido descontos aos chineses, e também está ansioso por atrair mais investimentos da China.

O preço do petróleo cru padrão Brent se recuperou de US$ 47 por barril em janeiro a mais de US$ 65 esta semana. De acordo com o Citigroup, a Rússia precisa que o preço do petróleo seja de US$ 90 por barril para conseguir equilibrar seu orçamento. Iraque, de US$ 98, Arábia Saudita, de US$ 105, e Irã, de US$ 137. Os produtores na Dakota do Norte (EUA) precisam de US$ 70. O preço de equilíbrio do petróleo brasileiro é estimado em US$ 75.

A Vale, mineradora de ferro brasileira, é uma das quatro fornecedoras dominantes do planeta. A Vale parece preparada para reter parte de sua produção em um esforço por desacelerar a queda dos preços do minério de ferro. Luciano Siani, o diretor de finanças da Vale, disse ao "Financial Times" que a companhia pode reduzir seus planos de crescimento no ano que vem. Ele também disse ao jornal britânico que a Vale "promoveria a maior produção possível" do minério de ferro de mais alto teor, que obtém os preços mais altos junto às siderúrgicas, e que ela levaria adiante o desenvolvimento de uma mina de baixo custo e de minério de alto teor conhecida como S11D, o maior projeto de minério de ferro em desenvolvimento no planeta.

Esse vasto projeto, na região de Carajás, no Pará, com infraestrutura de conexão ferroviária com o porto de São Luís, no Maranhão, deve começar a produzir em 2016 e atingir nível de produção de 90 milhões de toneladas de minério de ferro em 2018. Seria desnecessário dizer que esse projeto de extração a céu aberto em plena selva amazônica atraiu muita oposição de ambientalistas, tanto no Brasil quanto no exterior.

É irônico que tanto o petróleo quanto o ferro do Brasil reproduzam hoje algumas das respostas surgidas no boom de mineração anterior do país, no século 18. O ouro era produzido avaramente, e quanto mais melhor. Mas os diamantes requeriam controles draconianos, os quais limitavam o acesso do mercado europeu a eles, e assim aumentavam seu valor. As duas coisas dependiam de trabalho escravo. Mas o tempo provou que ouro e diamantes eram produtos finitos. E, com o tempo, o petróleo e o minério de ferro não serão diferentes.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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