Folha de S. Paulo


Jefferson e o Brasil

Segunda-feira (13) foi o aniversário de Thomas Jefferson.

Jefferson tem duas estranhas conexões com o Brasil. Uma data da década de 1780, quando era o enviado norte-americano a Paris. A segunda surgiu depois que ele se aposentou e se recolheu a Monticello, a mansão que mantinha no interior da Virgínia.

Em outubro de 1786, Jefferson recebeu uma carta assinada por "Vendek", um estudante brasileiro de medicina em Montpellier chamado José Joaquim Maia e Barbalho.

No ano seguinte, Jefferson se encontrou com Barbalho, e os dois conversaram sobre os planos brasileiros para romper com Portugal e fundar uma república modelada nas constituições republicanas dos EUA. Barbalho estava em busca de apoio dos americanos.

Jefferson disse ao jovem brasileiro que, embora os EUA não estivessem "desinteressados" em um Brasil independente, o país mantinha boas relações com Portugal.

O que era fato. Jefferson e John Adams assinaram um tratado comercial com Portugal em 1786. Foram os portugueses que não levaram o entendimento adiante. A razão, suspeito, foi porque a Inconfidência Mineira havia sido denunciada em 1789 e os interrogatórios revelaram a conexão com Jefferson na França.

Em março de 1789, Jefferson acreditava que os portugueses pudessem reiniciar as negociações, já que era do interesse de Portugal evitar que os EUA "conspirassem na emancipação de suas colônias".

A segunda ocasião resultou da amizade entre Jefferson e o abade Correia da Serra, que representou em Washington o Reino Unido de Portugal e Brasil, sediado no Rio de Janeiro, entre 1812 e 1820.

Os dois viam uma confraternização cordial entre Brasil e EUA, na qual, escreveu Jefferson, "em nossas regiões o leão e o cordeiro repousarão pacificamente lado a lado". Jefferson "se rejubilaria por ver as frotas do Brasil e dos EUA velejando juntas, como irmãs da mesma família, em busca do mesmo objetivo".

Nada disso veio a transcorrer. Quando Correia da Serra estava em Liverpool, estourou a Revolução Liberal em Portugal, o que pôs fim à ilusão de um consórcio entre os EUA e o Brasil nas Américas.

Passados 200 anos, Brasil e EUA ainda parecem sofrer de desentendimentos estranhos. Como o comentário do presidente Obama na semana passada de que "o Brasil precisou que as mulheres chegassem ao poder a fim de começar a limpar a corrupção".

Obama não foi informado de que 62% dos brasileiros acreditam que Dilma sabia sobre a corrupção na Petrobras? Talvez a vigilância sobre o celular de Dilma conte história diferente. Mas, se esse for o caso, só Obama saberá.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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