Folha de S. Paulo


O desafio de Atenas

Em 25 de janeiro, o parlamento grego viu a conquista de 149 dos 300 assentos pelo Syriza de Alexis Tsipras, de extrema esquerda e antiausteridade.

Novo ministro das Finanças, o economista político Yanis Varoufakis, 53, se recusou a receber os representantes da chamada "troika" –União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE)–, revelou propostas para encerrar o conflito entre a Grécia e seus credores por meio da conversão das dívidas em novos títulos vinculados ao crescimento, e prometeu manter superavit orçamentário permanente e reprimir os ricos sonegadores de impostos.

Varoufakis, que se descreve como "libertário marxista", está fazendo uma visita crucial às grandes capitais da Europa. Em Londres, George Osborne, ministro da Fazenda britânica, disse depois do encontro que "o impasse entre a Grécia e a zona do euro é a maior ameaça à economia mundial". Varoufakis disse acreditar em um "acordo rápido para acabar de vez com a crise grega".

Mas Angela Merkel já indicou que não está disposta a perdoar dívidas gregas. E seu ministro da Fazenda, Wolfgang Schäuble, disse que "quem quer que entenda dessas coisas conhece os números e a situação". Varoufakis apontou o banco de investimento norte-americano Lazard para assessorar a Grécia em suas negociações sobre uma dívida que sobe a mais de 175% do PIB do país.

Barack Obama declarou que "não se pode continuar pressionando países que estão em meio a uma depressão. Em algum momento, é preciso haver uma estratégia de crescimento a fim de pagar suas dívidas e eliminar parte de seu deficit". A maioria dos gregos concordaria, como a maioria dos espanhóis. Uma coisa é certa: negociações muito duras aguardam a Grécia e a zona do euro. Varoufakis é especialista em teoria dos jogos, mas o tempo para negociar é curto, tanto por conta da expectativa popular intensificada, da parte dos gregos, quanto pelos prazos que estão se esgotando para os acordos atuais do pacote de resgate à Grécia.

A Grécia já flertou com o abandono da zona do euro. As consequências econômicas seriam menos catastróficas hoje do que teriam sido em 2009, quando a crise anterior de dívida do país estava em seu pico. A zona do euro agora conta com mais mecanismos para se defender. Isso pode fazer com que a linha dura de Berlim e Frankfurt se disponha menos a transigir. Mas, de 2009 para cá, os perigos políticos de uma saída grega se multiplicaram. O confronto entre a Rússia de Putin e a Ucrânia, bem como o conflito na Síria e no Iraque, fazem da Grécia um parceiro inescapável, nem que apenas por sua proximidade geográfica. Rússia e Otan estão bem cientes disso. Os gregos também.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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