Folha de S. Paulo


Os mercados do petróleo

Uma das grandes tendências mundiais no mês passado foi o colapso do preço internacional do petróleo.

A crise na Petrobras já era ruim, mas o mergulho dos preços internacionais do petróleo, combinado à queda na demanda mundial e aos superávits petroleiros, resultou em virada profunda nos mercados futuros de petróleo, que traz consequências imediatas para as perspectivas brasileiras. O petróleo é a fundação da economia internacional e a base para muita esperança quanto ao futuro crescimento econômico, e para avanços na influência internacional e competitividade brasileiras.

Esta semana o contrato padrão europeu para o petróleo Brent com entrega em fevereiro caiu para US$ 54,72 por barril, em Londres, sua menor cotação desde maio de 2009. Nos EUA, o contrato de referência do petróleo do país caiu abaixo dos US$ 50 em Nova York para fevereiro, sua menor cotação em cinco anos; no começo da semana, era negociado a US$ 49,95, pela primeira vez desde abril de 2009. Houve queda livre nos preços das ações das companhias internacionais de energia, o que insuflou o medo de desaceleração econômica nos investidores de Wall Street e Londres.

O Brasil vinha contando com preços internacionais altos a fim de ajudar a financiar a exploração de suas vastas, mas difíceis e dispendiosas, reservas submarinas, para o que a participação e o envolvimento estrangeiro são componente essencial. Mas a presidente Dilma, em seu discurso de posse, culpou "inimigos externos" pelos problemas (autoinfligidos) da Petrobras. As grandes petroleiras internacionais foram as maiores perdedoras esta semana, com o recuo das ações nas bolsas.

O Brasil não é uma Venezuela, certamente. E muito menos Arábia Saudita, Kuwait, Iraque ou Rússia. Tampouco Nigéria ou Angola. Todos eles dependem quase exclusivamente de exportações de petróleo e gás natural. A economia brasileira é mais diversificada e (pelo menos potencialmente) mais resistente. Os consumidores podem se beneficiar dos custos mais baixos ao transporte.

Mas o Brasil pode sofrer danos colaterais enquanto a Arábia Saudita joga a carta do petróleo em seu benefício ao não reduzir a produção apesar da queda de preços. Com as maiores e mais baratas reservas do planeta, parece preparada para uma guerra de preços para bloquear a concorrência da produção dos EUA de petróleo extraído do xisto betuminoso, o novo desafiante no setor, que necessita de preços de pelo menos US$ 80 por barril.

Nas últimas décadas, as oscilações no preço do petróleo causaram grandes perturbações e sofrimento em todo o mundo. Infelizmente, parece que desempenharão o mesmo papel uma vez mais em 2015.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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