O referendo sobre a independência da Escócia ocorrerá dia 18 de setembro. As amplas diferenças nas pesquisas de opinião enviam mensagens conflitantes, especialmente sobre as dimensões da votação pró-união, que aparentemente se mantém em vantagem. O futuro dos 307 anos de união política entre Escócia e Inglaterra está em jogo. A projeção é de que o comparecimento às urnas seja muito alto. Não existe precedente para esse referendo, e pesquisas de opinião não são necessariamente um bom indicador de como as pessoas de fato votarão.
Os escoceses tiveram papel considerável no império britânico depois do Ato de União, ainda que o catastrófico investimento em um projeto colonial no golfo de Darien, istmo do Panamá, na década de 1690, que eliminou 25% do capital escocês, tenha sido uma das causas dessa união. As coroas da Escócia e da Inglaterra foram unidas quando James 6º, rei dos escoceses, subiu também aos tronos da Inglaterra e da Irlanda depois da morte da rainha Elizabeth 1ª, em 1603.
A colônia de Caledônia, em Darien, foi um completo fracasso, sucumbindo ao mau planejamento, doenças tropicais e à oposição espanhola e inglesa. Como resultado da crise, o Parlamento inglês votou o Ato de União, em 1706, e o Parlamento escocês, depois de muito suborno e atividade clandestina por espiões e agentes provocadores, votou o seu ato de união, um ano mais tarde, e subsequentemente votou por se extinguir. Então foi estabelecido um único "Reino Unido", conhecido como Grã-Bretanha.
Ironicamente, o Brasil deve a preservação de sua unidade territorial nos anos 1820 às ações de um marinheiro e mercenário escocês, o almirante Thomas Cochrane, mais tarde 10º conde de Dundonald. Após fundar a marinha do Chile, ele garantiu a vitória das forças navais de Dom Pedro 1º sobre os portugueses na Bahia, no Maranhão e em Belém. Mais tarde também lideraria ações navais pela independência da Grécia.
Como muitos escoceses, o lorde Cochrane era pobre, liberal, audacioso, muito avançado cientificamente e também muito cobiçoso. Herói das guerras napoleônicas, era conhecido como "le loup des mers" [o lobo do mar] por seus oponentes franceses. Político liberal, foi expulso da marinha britânica em 1814 como resultado de sua condenação por um escândalo na Bolsa de Londres –foi readmitido em 1832.
Tornado marquês do Maranhão por Dom Pedro 1º, as ações de Cochrane serviram de base para os romances de aventura navais de Horace Hornblower, escritos por C. S. Forester, bem como para as histórias de Patrick O'Brian protagonizadas por Jack Aubrey. Deve-se em medida considerável ao escocês lorde Cochrane o fato de que, embora o Brasil tenha muitos problemas, a integridade territorial não seja um deles.
Tradução de PAULO MIGLIACCI