Folha de S. Paulo


Pausa de primavera

No final de semana passado, o presidente Barack Obama e sua família tiraram sua folga de primavera na Flórida. O presidente jogou golfe no exclusivo Ocean Reef Club, em Key Largo. O vice-presidente Joe Biden, por sua vez, estava desfrutando de sua pausa de primavera nas Ilhas Virgens Americanas. Obama se reuniu com Arseni Iatseniuk, o primeiro-ministro da Ucrânia, ontem na Casa Branca.

Neste final de semana, a Crimeia votará um referendo sobre seu retorno à Rússia. Vladimir Putin, usando astúcia política e poder bruto, conseguiu o que queria. A questão é o que vem a seguir.

Uma resposta militar de Washington é improvável. Obama rejeitou a recomendação de seus assessores jurídicos de que retirasse da Agência Nacional de Segurança (NSA) a responsabilidade pelo armazenamento de dados. As nebulosas redes das agências de inteligência e dos prestadores de serviços privados de inteligência dos EUA estavam ocupadas demais espionando a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, para dedicar muita atenção ao que Putin andava aprontando.

Na terça-feira, a senadora democrata Dianne Feinstein, presidente do Comitê de Inteligência do Senado, acusou a CIA de retirar secretamente documentos sigilosos dos computadores de seu comitê durante uma investigação que este estava conduzindo sobre o programa de interrogatórios da agência de inteligência.

O Pentágono está gastando centenas de milhares de dólares em um estudo da linguagem corporal de Putin, a fim de prever suas próximas ações. Eles deveriam ter observado a linguagem corporal nas fotos de Putin sentado ao lado de Obama durante a mais recente reunião do G8. Elas teriam revelado tudo que é preciso saber. A questão agora é determinar se Putin está saciado.

O senador republicano John McCain visitou a Ucrânia em dezembro. Queixou-se que a crise ucraniana é o "resultado final de uma política externa inconsequente, que faz com que ninguém mais acredite no poder dos EUA". Putin sem dúvida concordaria.

Obama prefere espionagem e veículos aéreos não tripulados a soldados em campo. Mas o mundo real é um lugar perigoso. Percepções de fraqueza podem ter um custo pesado se levarem oponentes a arriscar demais, e também acarretam o risco de forçar líderes vistos como fracos a reagir de modo excessivo como consequência.

O balneário de Yalta é um dos pontos favoritos da Crimeia, uma região que depende do turismo. Joseph Stálin, Franklin Roosevelt e Winston Churchill se reuniram lá em fevereiro de 1945. Não é uma lembrança encorajadora. Putin pode até convidar Obama e Biden a passar a folga de primavera em Yalta no ano que vem.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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