Folha de S. Paulo


Corrupção à europeia

Nesta semana, a Comissão Europeia lançou seu primeiro relatório anticorrupção (o documento está disponível em em bit.ly/corrupcaoUE).

A comissária de assuntos internos, a política sueca Cecilia Malmström, em entrevista coletiva para o lançamento do relatório em Bruxelas, declarou que "a corrupção solapa a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas e no Estado de Direito, prejudica a economia europeia e priva os Estados de arrecadação tributária muito necessária".

Estima-se que a corrupção custe à economia da zona do euro cerca de € 120 bilhões (cerca de R$ 390 bilhões) ao ano. De acordo com o relatório, 76% da população europeia acredita que a corrupção seja generalizada; 90% a vê como problema na Grécia, Itália, Lituânia, Espanha, República Tcheca, Croácia, Romênia e Portugal; um quarto da população diz que a corrupção afeta sua vida pessoal; e metade da população diz acreditar que a corrupção aumentou nos últimos três anos.

Dinamarca, Finlândia, Luxemburgo e Suécia têm pouca experiência com propinas. Na Dinamarca, por exemplo, apenas 20% da população considera que a corrupção seja generalizada, enquanto em Portugal o índice é de 90%. Na Dinamarca, apenas 6% acredita que "compadrio e nepotismo sejam problema para os negócios de sua empresa", ante 57% em Portugal. Ainda na Dinamarca, 4% dos entrevistados acreditam que "a corrupção seja problema para os negócios de sua empresa", ante 68% em Portugal.

Um terço das companhias que participam de concorrências públicas para contratos como o governo foram impedidas de fazê-lo por causa da corrupção. O relatório também constatou que os países membros da União Europeia fracassaram sucessivamente em resolver os conflitos de interesses entre políticos e empresas.

Das 7.842 empresas entrevistadas, 69% dizem que pagar propinas e explorar conexões políticas é o caminho mais fácil para obter certos serviços públicos. Malmström observou que a corrupção "custa milhões aos contribuintes, e em muitos casos ajuda grupos de crime organizado a fazer seu trabalho sujo".

Acredita-se que a corrupção custe R$ 70 bilhões anuais à economia brasileira. Os escândalos em São Paulo e em Brasília, envolvendo a gigante alemã Siemens e a companhia francesa de transporte e energia Alstom, deixam claro que é na interseção entre políticos, obras públicas e grandes companhias industriais e de construção, que a tentação (ou, mais precisamente, a obrigação) de subornar ocorre. Será que a nova lei brasileira de combate à corrupção vai impedir isso? Só o futuro dirá.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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