Folha de S. Paulo


Dilma vai defender Lula

A presidente Dilma Rousseff e seus principais ministros têm dito em conversas reservadas que não aceitarão que a oposição ou que setores do Judiciário e do Ministério Público tentem trazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma contenda política e judicial que envolva o mensalão.

Uma cena de bastidor nesta sexta (05) em Brasília ilustra bem essa disposição. Juntos num evento, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, tiveram uma conversa áspera.

Numa versão dada em Brasília, Ayres Britto teria dito que separava Dilma e Carvalho dos réus do mensalão. Ou seja, para ele, há petistas e há petistas.

Carvalho não gostou. Respondeu que não aceitava essa separação. Disse que ele, Dilma, Lula, José Dirceu e José Genoino pertenciam ao mesmo PT. Ou seja, os prováveis condenados, segundo Carvalho, não poderiam ser apagados da fotografia histórica da chegada do partido ao poder.

Ayres Britto e Carvalho já foram próximos. Estavam afastados desde antes do julgamento do mensalão. Na sexta, distanciaram-se ainda mais.

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Alvo político

Na avaliação do Palácio do Planalto, com a provável condenação dos principais réus petistas, Lula entrará na mira da oposição e de setores do Ministério Público. Para a oposição, a condenação dura que petistas vêm sofrendo fornece base material para um discurso contra Lula e o PT. Um eventual enfraquecimento de Lula causaria dano ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A subida de tom do senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência em 2014, foi lida no governo e na cúpula do PT como reflexo do rumo que o julgamento do mensalão tomou no Supremo.

Resumindo: o embate entre governo e oposição vai esquentar após o resultado final desta fase do julgamento do mensalão, na qual os ministros votam e dosam as penas.

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Longa metragem

O efeito do julgamento do mensalão vai se estender pelos próximos anos. Haverá a fase de escrever o acórdão, dos recursos, dos mandados de prisão, do cumprimento das penas substitutivas e de cadeia. Enfim, não faltarão cenas para manter o assunto aceso em 2013 e 2014.


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