Folha de S. Paulo


Falso enigma do RUF tec tec

Em meio à correria deste setembro vertiginoso, anotei apressadamente na agenda de segunda feira, dia 8: "RUF, tec, tec". E fui pegar a estrada para os compromissos da campanha no interior do meu Estado, o Tocantins.

"RUF, tec, tec" era uma anotação pessoal, mas acabou caindo nas mãos de assessores, que logo imaginaram tratar-se de um enigma que deveriam decifrar. Um mistério à la Orson Welles no filme "Cidadão Kane", em que o personagem pronuncia a palavra "rosebud" instantes antes de morrer.

À noite, porém, quando os reencontrei em Palmas, todos rimos muito. O suposto enigma não passava de um lembrete para eu não esquecer o impacto que me causara a leitura da versão de 2014 do Ranking Universitário Folha –a que corresponde a sigla RUF.

Fiz o apontamento, tomando o ranking como uma das referências que desejo ter sempre à mão quando precisar abordar questões da agricultura que envolvam tecnologias (tec) e formação de técnicos (tec). A síntese jornalística do suplemento de 32 páginas, graças aos recursos infográficos, valiam um volume.

Começando as providências a partir do falso enigma, reclamei informações sobre a Universidade Federal do Ceará (UFC), que inventou, desenvolveu e patenteou uma colheitadeira de legumes e verduras que logo chegará ao mercado, produzida por uma indústria paulista. O capítulo do estimulo à inovação, que está no bojo da grande discussão sobre a vocação maior das universidades para ensino e pesquisa, é outro dado que o ranking procurou estabelecer a partir da análise de resultados.

Essa façanha da UFC não é gratuita. Os cearenses foram campeões de pedidos de registro de invenções no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), embora as universidades do Sudeste, em conjunto, liderem o setor. Para quem enfrenta desafios do mercado internacional para se manter na liderança de produção e produtividade, que termina na vala comum dos preços nas Bolsas de mercadorias, a retaguarda da pesquisa universitária é extremamente importante.

Sempre ouço louvores aos avanços tecnológicos da nossa agropecuária, em cujo progresso quase diário disputam as grandes empresas de tecnologia. E nunca me esqueço de que tudo começou com a absorção de conhecimentos nas universidades, especialmente em Minas Gerais e nos Estados Unidos, tendo à frente visionários como Eliseu Alves e Allison Paulinelli, criadores da nossa Embrapa.

Nesta mesma semana, o ex-ministro Reis Velloso, na Sessão Especial de seu Fórum Nacional, dedicou-se a alertar sobre o fato de que "o Brasil pode ficar de fora da corrida tecnológica" e que, portanto, é "crucial a necessidade de investimento em inovação".

Diante do alerta, ocorreu-me um dos produtos mais importantes da atividade acadêmica contida no ranking da Folha: a produção de artigos pelos docentes, cuja disseminação devidamente selecionada, para fazê-los chegar em linguagem acessível e em tempo oportuno aos interessados, deve ser mais bem acompanhada pelos produtores rurais.

Na realidade, o ranking supera seus números óbvios, como a classificação geral das 192 universidades analisadas e até mesmo a listagem dos dez melhores entre os 40 cursos principais, incluindo o de agronomia.

Como a ciência quebrou os tabus das especialidades como nunca, a cadeia produtiva do agronegócio também está atenta a áreas diversas como biologia, economia, ciência da computação, engenharia ambiental, engenharia de controle e automação, medicina veterinária, nutrição, matemática. "E por que não termos também um historiador e um filósofo nesta equipe?"

Foi o que lembrei outro dia no Senado, num debate sobre legislação trabalhista. Precisei me explicar, ressaltando o argumento de que as leis, por mais que expressem definições da ciência e da tecnologia, não dispensam o tempero humanístico.

A mistura é valiosa, pois não se produz inovação segmentando áreas do conhecimento. E, como bem demonstra a realidade, a universidade é o caminho da conjugação da ciência e da tecnologia com o humanismo.


Endereço da página: