Folha de S. Paulo


Balanço de ano novo

Este ano começa prometendo ainda mais trabalho para a ombudsman e para o leitor: a CPI do Orçamento ainda não acabou e as campanhas eleitorais já ensaiam para tomar as ruas. Num ano como este, em que o Brasil vai de novo às urnas para escolher até seu presidente da Republica - com a esperança de não ter de defenestrá-lo logo depois-, a imprensa tem muito o que fazer, e fazer direito. Essa vigilância, leitor, é tarefa que vamos desempenhar juntos.
No ano passado, sem eleição nem campanha e com uma CPI do Orçamento que só vingou no último trimestre, os dois ombudsmen da Folha (Mario Vitor Santos terminou seu mandato em setembro) fizeram nada menos que 4.376 contatos com leitores do jornal. Na maioria das vezes, para ouvir reclamações, protestos e queixas contra a Folha. Não é nada fácil trabalhar às voltas com a insatisfação alheia. Mas é necessário abrir espaço para essa insatisfação, de maneira a revertê-la em benefício dos próprios leitores.
Do que andou reclamando o leitor da Folha no ano passado? Em primeiro lugar, das editorias mais lidas do jornal: o caderno Brasil (276), Esporte (269), Ilustrada (261) e Cotidiano (235). Os números, bastante equilibrados, permitem ver que nenhuma delas pode ser considerada a pior editoria do jornal, ou a que mais erra. Ocorre que são as mais lidas, e onde as notícias tocam diretamente no dia-a-dia dos leitores.
Boa parte dos telefonemas e cartas que contém críticas a essas editorias revelam que elas são as primeiras que o leitor consulta assim que abre seu jornal. Não espanta que ele acione a ombudsman todas as vezes que encontra nelas falhas, erros, imperfeições. Essas são as editorias que garantem munição para entender como e por que razão as coisas acontecem. Manobras políticas, planos econômicos, campeonato de futebol, o filme em cartaz, o buraco da esquina, essas coisas que modificam o cotidiano das pessoas passam por aquelas páginas. São as que leio com mais atenção e critico com mais apuro, porque sei que são as mais fundamentais para o leitor.

Outro foco de reclamações tem sido o Painel do Leitor (196). Há leitores inconformados com a transformação desse espaço no que um interlocutor constante da ombudsman chamou de "painel do direito de resposta". É que boa parte das cartas abrigadas ali são mesmo de autoridades, empresas ou notáveis envolvidos em alguma pendência com o jornal, que acaba emprestando a eles um espaço originalmente destinado ao leitor para a publicação de suas contestações.
A situação está longe de ser a ideal, e a própria Redação tem reconhecido isso. Temo pelo que possa acontecer num ano eleitoral, em que candidatos e candidatos a candidatos, mais seus assessores e simpatizantes tenderão a responder até vírgulas de reportagens publicadas na imprensa. Internamente, tenho insistido na necessidade de garantir ao leitor seu espaço no Painel do Leitor, enquanto outras cartas e respostas poderiam ser publicadas em espaço próprio para isso. Não será uma tarefa fácil, mas estou nessa briga e vou até o fim, na defesa de um direito do leitor - o de ver sua opinião publicada num canto que o jornal franqueou a ele.

As estatísticas revelam ainda que o leitor da Folha tem sido condescendente com os erros do jornal. Ao longo do ano, apenas 440 deles se ocuparam de apontar erros de acabamento (34), de grafia (67) ou de informação (339). nunca contei, mas imagino que essa deve ser a quantidade publicada numa única semana pelo jornal.
Para melhorar esse controle, convoco a ajuda dos leitores: eles que tratem de escarafunchar mais, reclamar mais e exigir mais do jornal. Os erros apontados foram, em sua enorme maioria, corrigidos na seção apropriada, o "Erramos". Há aí uma tênue garantia de que nunca mais voltem a acontecer. Por esse motivo, não devem ser desculpados nunca. É a chance de vê-los diminuir no jornal.

A Folha terminou 93 com um crescimento de 17% durante o ano em sua circulação paga - ou mais 67.000 exemplares todos os dias. Confirmou sua posição de maior jornal do país e aos domingos, quando enfrenta a concorrência pesada de "O Estado de S.Paulo", começa a ver a solidificação das vantagens que conseguiu com o Folhão.
Esse crescimento, entretanto, tem seu lado ruim: a empresa trabalha hoje com limitações muito grandes para a impressão do jornal, o que faz surgirem problemas que vão de exemplares amassados entregues aos assinantes à suspensão, ainda que temporária, de cadernos (como ocorreu com o Tudo entre outubro e novembro). Cada vez mais a equação que obriga à impressão rápida de exemplares volumosos, que devem chegar cedo às bancas e à casa do assinante, torna-se complicada. Quase insolúvel.
Neste ano, se a economia permitir, a Folha seguirá construindo um novo parque gráfico nas cercanias de São Paulo que poderá, depois de pronto, acabar com o pesadelo da Redação e dos leitores. O jornal saído dessas novas máquinas será quase que inteiramente colorido, poderá ter muitas páginas e ser fechado em horários hoje impraticáveis. Infelizmente, porém, esse ainda é um sonho para o ano que vem. Por enquanto, vamos - ombudsman e leitores - ficar atentos ao que interessa em 94: será que a imprensa vai dar um show de responsabilidade na cobertura das eleições?
Tomara que sim


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