Folha de S. Paulo


Para Odebrecht, ganho de R$ 8 bi com MPs era um pedido "nada de mais"

Rodrigo Félix Leal - 1º.set.2015/Futura Press/Folhapress
Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)
Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba

BRASÍLIA - Com essas palavras, Marcelo Odebrecht aparece em vídeo defendendo a legitimidade dos pedidos feitos ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento gravado em vídeo para o Ministério Público Federal (MPF).

Perante as câmeras, Marcelo Odebrecht e também seu pai, Emílio Odebrecht, afirmaram que não teriam pedido nada ao ministro que só beneficiasse seu grupo. Emilio chegou a citar Gerdau e Vale como companhias interessadas em ver os pleitos da Odebrecht atendidos.

Ambos disseram aos procuradores do MPF terem agido na mais alta instância do governo. O filho, junto ao ministro Guido Mantega, e o pai, com o então presidente Lula.

Ao doar R$ 150 milhões para as despesas do PT, oficialmente e via caixa dois, o grupo Odebrecht "construiu uma relação", nas palavras de Marcelo Odebrecht, e se apoderou da agenda do ministro.

Depois dos primeiros R$ 50 milhões liberados, Marcelo Odebrecht disse ao MPF que já tinha uma "relação tal" com Mantega que não precisava mais exigir contrapartidas. O "toma lá, dá cá" ficou implícito.

Muitas vezes, ainda segundo o executivo, o próprio ministro o chamou só para fazer pedidos em nome do partido. Para aproveitar a reunião, Marcelo Odebrecht apresentava um "pleito do momento".

O grupo conseguiu três medidas provisórias. Uma delas corrigiu a anterior, que não tinha ajudado tanto a empresa a recolher menos tributos.

É suficientemente chocante ver e ouvir um dos maiores empresários do país contar como o gabinete do ministro virou um departamento de sua empresa. Mas o que causa mais espanto é a naturalidade com que menospreza o dano de seus pedidos.

As medidas provisórias permitiram à empresa deixar de pagar pelo menos R$ 8 bilhões em tributos. Na semana passada, o governo, constrangido, raspou o tacho, não achou R$ 9 bilhões no caixa, e cortou despesas de programas sociais.


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