Folha de S. Paulo


Planalto espera desgaste com indicação de Moraes para STF

Andressa Anholete - 3.fev.2017/AFP
Brazilian President Michel Temer (R) and Justice and Public Security Minister Alexandre de Moraes are pictured during the inauguration ceremony of the ministers of Justice and Public Security, Alexandre de Moraes, of Human Rights, Luislinda Valois and the presidency's Secretary General Wellington Moreira Franco at Planalto Palace in Brasília, on February 3, 2017. / AFP PHOTO / ANDRESSA ANHOLETE
Alexandre de Moraes, indicado para o Supremo, em evento com o presidente Michel Temer

BRASÍLIA - A indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal deverá render um, dois meses de malhação pública para o presidente Michel Temer. Na álgebra do Palácio do Planalto, garantir um homem de confiança do peemedebista e de seus aliados na alta corte compensa algumas dúzias de vilipêndios em colunas e timelines. A depender da profusão do noticiário, em questão de dias o desgaste terá sido suplantado.

E afinal, qual o problema de escolher um político tucano, com verniz técnico, para a cadeira vaga do STF? Qual o desconforto em ver Gilmar Mendes pelos salões do Jaburu confabulando pelo nome de Moraes? O que há de suspeito em Renan Calheiros —que é réu no Supremo e ainda responde a oito inquéritos na Lava Jato— e a cúpula do Senado torcerem pelo ministro da Justiça?

Ora, com a substituição do relator morto Teori Zavascki pelo discreto Edson Fachin, Temer não ficou livre, leve e solto para indicar o novo integrante do tribunal sem ser censurado por influenciar nos rumos da investigação?

O enredo todo soaria menos estranho se há cinco dias o presidente não tivesse assegurado ao amigo Moreira Franco —citado 34 vezes por um delator da Odebrecht— espaço VIP em seu ministério. Com a manobra, o gestor do programa de concessões recebeu mais que um crachá oficial para desempenhar funções que de fato já exercia na Esplanada.

Moreira ganhou a proteção do foro privilegiado na mesma semana em que as 77 delações do "fim do mundo" foram homologadas pela ministra Cármen Lúcia.

Caberá agora ao próprio STF julgar se a tacada de Temer não foi um repeteco do episódio "Bessias", quando a ex-presidente Dilma Rousseff nomeou Lula para a Casa Civil e foi acusada de tentar livrá-lo de uma possível prisão.

Poderá ser a primeira oportunidade para Moraes dar uma força para Moreira.


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