Folha de S. Paulo


Governo caminha para o centro de uma tempestade perfeita

Alan Marques/Folhapress
Geddel, Temer e Calero
Geddel, Temer e Calero

BRASÍLIA - O governo Temer caminha para o centro de uma tempestade perfeita nos próximos dias.

O tsunami desencadeado pelo caso do ex-ministro Marcelo Calero, levando à demissão do articulador político do governo, Geddel Vieira Lima, ainda deve sofrer o impacto da segunda onda. As gravações feitas por Calero de conversas com a cúpula do Palácio do Planalto têm potencial para levar mais cabeças para a guilhotina.

A delação premiada dos executivos da Odebrecht —já apelidada de "delação do fim do mundo"— está prevista para ser assinada nesta semana, elevando o grau de tensão na Esplanada dos Ministérios. Especula-se que mais de cem políticos sejam citados, incluindo Geddel, Temer e seus escudeiros Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Apesar da rejeição generalizada, a anistia ao caixa dois deve voltar à pauta da Câmara numa operação comandada pela base governista. O Planalto ameaça vetar a proposta. No Senado, o aliado Renan Calheiros comandará a votação da PEC do Teto —maior aposta da equipe econômica para debelar a crise— na mesma semana em que corre risco de virar réu no Supremo Tribunal Federal.

Sob nuvens densas, o Banco Central precisará ser mais conservador do que se esperava na última reunião deste ano para decidir o rumo dos juros. Será o primeiro encontro após a eleição de Trump.

Em vez da redução desejada de 0,5 ponto percentual, deve optar por um ajuste cauteloso de 0,25. Notícia pouco auspiciosa para uma economia asfixiada e com poucas portas de escape.

O comportamento do PIB no terceiro trimestre, a ser anunciado na quarta-feira pelo IBGE, poderá confirmar as suspeitas de que a recessão se aprofundou no período e está longe do fim.

A confluência de eventos empurra o governo para zonas mais turvas. Tempos difíceis de prever.


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