Folha de S. Paulo


Nova onda?

Além de abominável, a imagem de 50 manifestantes invadindo com fúria o plenário da Câmara dos Deputados e bradando por intervenção militar, no mesmo dia em que a panela de pressão dos protestos de servidores estourava em frente à Assembleia Legislativa do Rio, teve um quê de junho de 2013.

A associação é ainda mais instantânea quando se adicionam as ocupações das escolas em várias cidades do país, principalmente no Paraná.

Talvez haja precipitação na analogia. Por curiosidade, revisitei as 30 edições da Folha daquele junho.

A popularidade da presidente Dilma Rousseff batia 57%, o desemprego encontrava-se abaixo de 6%, o governo estimulava Estados a contratar empréstimos no exterior e o descontrole da inflação era apenas um temor que o Banco Central tentava aplacar com o início do ciclo de elevação da taxa de juros, naquele momento em 8% ao ano.

Um protesto ou outro apareciam nas páginas do jornal em episódios circunscritos: índios bloqueavam rodovias, grupos evangélicos faziam passeata contra o aborto e servidores da saúde invadiam a Assembleia de São Paulo.

Bastaram os primeiros atos na av. Paulista contra o aumento da tarifa de ônibus para a combustão espontânea. As manifestações passaram a reunir milhares de adeptos e se espalharam pelo país. Em alguns dias, atingiram mais de cem cidades, inclusive as capitais, com escalada de violência e vandalismo.

A pauta de reivindicações tornou-se difusa e a onda de protestos não tinha um líder para chamar de seu. No espaço de três semanas, Dilma perdeu 27 pontos em seu índice de aprovação, e 8 em cada 10 brasileiros apoiavam as manifestações. Atônita, a presidente procurava uma forma de responder aos atos.

De fato, a situação do país hoje é bem diferente, mas em desfavor do governo Michel Temer -que até agora reage às ruas com mais zombaria do que preocupação.


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