BRASÍLIA - A classe política brasileira regozija-se com a morosidade do Judiciário. Processos contra parlamentares criam bolor nos escaninhos do Supremo Tribunal Federal, onde atualmente existem 84 casos que já duram, em média, oito anos sem conclusão.
A elite empresarial entra em pânico na iminência de eclodir a delação da Odebrecht. Gigantes do PIB tentam mobilizar o Congresso para aprovar medidas de contenção de danos. Fazem lobby pela aprovação da anistia ao caixa dois, limpando a barra de políticos que receberam doações irregulares até agora.
Querem mudar também as regras dos acordos de leniência, que vêm sendo negociados por empresas citadas na Lava Jato, com a intenção de fazer valer a máxima "too big to fail" (muito grande para quebrar).
A nova etapa da repatriação de recursos irregulares no exterior, a pretexto de garantir mais dinheiro para o ajuste fiscal, poderá beneficiar parentes de políticos —além de outras mirabolâncias que podem ser enxertadas durante a tramitação da proposta no Legislativo.
Regalias de magistrados, cujos salários em fim de carreira equivalem a 16 vezes a renda média nacional, agora se estendem a negociação de férias não gozadas para engordar contracheques à margem da lei.
O Palácio do Planalto de Michel Temer, em plena campanha para limitar gastos públicos, torra R$ 500 mil com um show para VIPs em homenagem ao centenário do samba.
Tudo parece surreal para o cidadão comum, que enfrenta uma jornada de trabalho semanal de 44 horas, que se angustia à espera das reformas trabalhista e da Previdência e que aguarda com expectativa o 13º que o Estado pode não honrar.
Para quem está na fila dos 12 milhões de desempregados ou para quem assiste perplexo na TV à história de cinco jovens assassinados supostamente pela PM em São Paulo.
O Brasil segue como um país desigual e injusto. Sob vários aspectos.