Folha de S. Paulo


Governo hesita na reforma da Previdência e pode perder chance

Pedro Ladeira - 5.out.2016/Folhapress
Michel Temer, durante solenidade no Supremo Tribunal Federal
O presidente Michel Temer, durante solenidade no Supremo Tribunal Federal

BRASÍLIA - A hesitação do Palácio do Planalto em enviar a reforma da Previdência ao Congresso parece incongruente com o capital político angariado pelos partidos da base temerista no Legislativo nas eleições municipais.

Também não é condizente com a margem confortável de votos obtida pelo governo nos dois turnos de votação da PEC do Teto na Câmara.

O presidente Michel Temer e seus conselheiros políticos capitulam a pressões de deputados que fogem da discussão sobre as mudanças nas aposentadorias como o diabo da cruz. O governo teme dar início ao debate de medida tão impopular e assim contaminar a reta final da votação do teto, que agora está nas mãos do Senado de Renan Calheiros.

Nos cálculos políticos, é melhor liquidar uma fatura para só depois mandar outra bem mais salgada para apreciação do Congresso.

Uma decisão nesse sentido empurrará a largada da reforma da Previdência para meados de dezembro, a poucos dias do recesso parlamentar. Ou pior: jogará tudo para 2017.

Para a equipe econômica, o adiamento para o ano que vem tem potencial de causar "preocupação" no mercado. Avalia ainda que o envio imediato seria importante como um "reforço ao teto", garantindo as condições para seu cumprimento.

A bem da verdade, ninguém mais esperava que o debate da Previdência começasse, de fato, em 2016.

Entretanto, mais esse titubeio no envio da proposta —além de consolidar a pecha de uma administração já notória por recuos— pode fazer o governo perder uma janela que se abriu entre o término do pleito municipal e o cataclisma da delação dos executivos da Odebrecht.

A alta octanagem das revelações de Marcelo Odebrecht & cia deve sacudir os alicerces na Praça dos Três Poderes, tragando ministros da linha de frente do governo e parlamentares importantes no xadrez político.

À espera do timing ideal, Temer pode perder o controle da situação.


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