Folha de S. Paulo


Sensação é que seria melhor se os sul-americanos abdicassem do Mundial

Silvia Izquierdo/Associated Press
Argentina's Independiente Ezequiel Barco, left, celebrates with teammetes after scoring from the penalty spot against Brazil's Flamengo during the Copa Sudamericana final championship soccer match at Maracana stadium in Rio de Janeiro, Brazil, Wednesday, Dec.13, 2017. (AP Photo/Silvia Izquierdo) ORG XMIT: XMC117
Independiente comemora o gol do título da Sul-Americana no Maracanã

A última impressão é a que fica diz a máxima.

Se for verdade, estamos fritos.

Porque o Flamengo acabou superado pelo melhor futebol do argentino Independiente na decisão da Copa Sul-Americana e o Grêmio foi presa fácil do globalizado Real Madrid na final do Mundial.

Ficou uma sensação de que o melhor a fazer para quem ganha a dura Libertadores é abrir mão de disputar o torneio da FIFA e apenas comemorar o feito continental.

Porque o derradeiro time sul-americano a conquistar o Mundial foi o Corinthians, cinco anos atrás, e só Deus e Cássio sabem como, apesar de aquele Chelsea estar longe de ser o Barcelona que goleou o Santos um ano antes ou do Real Madrid que passou pelo Grêmio de passagem, sem sofrer nem um chute sequer contra sua meta e parecer estar mais preocupado com o próximo clássico contra os rivais catalães, no próximo sábado (23), no Santiago Bernabeu.

Fato é que desde da conquista do Internacional, em 2006, em 11 Mundiais, apenas o Corinthians se intrometeu nas conquistas europeias.

Esqueçamos que o Galo, em 2013, acabou derrotado na semifinal pelo Raja Casablanca, de Marrocos, com o que livrou-se de perder para o Bayern Munique, ou que o Inter, em 2010, caiu perante o Mazembe, do Congo, sem o gostinho de enfrentar seu homônimo italiano Internazionale.

Por mais que se possa dizer que o Grêmio perdeu dignamente, por apenas 1 a 0 e numa falha de sua barreira que abriu na cobrança de Cristiano Ronaldo, a verdade é que os times deste lado do mundo vão para eventuais finais do Mundial para jogar por uma bola, em busca do improvável, sem a menor condição de jogar de igual para igual, como teimosamente Renato Portaluppi quis nos convencer depois do jogo em Abu Dhabi.

Nossos hermanos argentinos do Boca Juniors, Estudiantes, San Lorenzo e River Plate passaram pelas mesmas experiências mal-sucedidas, para não falar da equatoriana LDU, ou do Mazembe, Raja e do japonês Kashima Antlers.

Não tem para ninguém quando o adversário é europeu.

E o ano que tinha tudo para acabar em festa pela conquista do torneio continental termina em frustração, por mais que, de antemão, se saiba que a missão é quase impossível.

Enquanto o futebol brasileiro for dirigido com métodos do século passado as diferenças de poderio econômico dos clubes da Europa tornarão os embates sempre enormemente desiguais, porque são do Velho Mundo apenas no rótulo, muito mais modernos, boa parte deles sociedades anônimas futebolísticas.

Não dá para disputar. Dá apenas para coadjuvar.

UM MARCO

A FIFA viu-se impotente diante das evidências vindas do tribunal de Nova York e acabou obrigada, tardiamente, a preparar a cama do Marco Polo que não viaja.

Suspendeu-o hoje para bani-lo amanhã e, assim, poder seguir em seu papel de vítima.

A inevitável notícia ruim para o futebol nacional está na má troca: sai Del Nero, entra o coronel Nunes, que se fosse apenas uma figura folclórica estaria bem, mas a diferença entre ele e o cartola que substitui se limita às fronteiras dos malfeitos: um teve apetite em dólares e o outro se basta em reais.

Ao menos pode viajar.


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