Folha de S. Paulo


O nível técnico do campeonato é baixo, muito baixo, abaixo da crítica

O REPÓRTER desta Folha Luiz Cosenzo perguntou ao técnico Renato Portaluppi como ele vê o nível atual do futebol brasileiro.

E o Gaúcho (para todos os Estados do país, menos para o Rio Grande do Sul) bateu de primeira com a categoria que trouxe do berço como ótimo jogador por quase duas décadas e outras tantas como treinador: "Não é dos melhores. É só ver a tabela. Temos sete times que dispararam e brigam por algo relevante. O resto luta para não cair. Essa é a melhor prova de que o nível não é bom. O correto seria cinco, seis times na briga para não cair".

Atenção: Renato comanda o único time nacional nas semifinais da Copa Libertadores da América e vice-líder do Campeonato Brasileiro; time que chegou a encantar no começo da temporada, deu uma despencada ao vender prematuramente o bom Pedro Rocha e perder, por lesão, o ótimo Luan.

No mesmo dia, quarta (18), o colunista Tostão, que brilhou ainda mais que o Gaúcho como jogador por dez anos, e teve o bom senso de não virar treinador para se tornar o melhor colunista de futebol do Brasil, escreveu na página seguinte, neste mesmo jornal: "O nível técnico do Brasileirão está muito fraco por falta de talento individual, condutas viciadas e ultrapassadas e porque os técnicos têm pouco tempo para formar bons conjuntos, álibi que, em muitas situações, não se justifica".

Aqui neste cantinho, modestamente, depois de cinco anos como aprendiz de jogador de basquete, apenas um centroavante impetuoso e goleador nos jogos recreativos da Editora Abril, a rara leitora e o raro leitor têm lido do veterano escriba que a seleção brasileira não serve como parâmetro para avaliar a bola que se joga por aqui.

Porque tem talentos individuais que escasseiam nos clubes e um técnico atualizado, contratado pela desesperada CBF como salvador da pátria.

O nível técnico de nosso campeonato, de fato, é baixo, muito baixo, abaixo da crítica.

O deste 2017 e dos anteriores também. Só isso explica a excepcional campanha do líder Corinthians no turno, fruto de um time organizado e sem brilho.

Na temporada passada, o Palmeiras ganhou o título meio com os pés nas costas porque contou com o excepcional Gabriel Jesus e com Moisés em excelente fase, assim como Renato Augusto e Jadson lideraram o Corinthians campeão de 2015, mesmo sem serem meias extraordinários. Tanto que um foi apenas para a China, onde permanece, e o outro, depois de curta carreira também no Eldorado chinês, voltou ao Alvinegro, sem repetir as atuações de dois anos atrás.

O horroroso 0 a 0 entre Corinthians e Grêmio, os dois líderes do Brasileiro, foi apenas mais uma prova de a quantas andam as coisas nos gramados nacionais. Por mais que o torcedor alvinegro possa comemorar nova rodada com vantagem folgada.

A razão da queda vertiginosa do nível de nosso futebol, a ponto de estarmos perdendo a identidade da escola brasileira é angustiante, mas simples: não temos mais Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Gérson, Rivellino, Falcão, Zico, Sócrates, Romário, Rivaldo ou Ronaldos ou Neymar no país.

Só um bando de Marco Polos.


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