Folha de S. Paulo


Não à Copa sem Lionel Messi

Que o torcedor brasileiro torça contra a ida da Argentina à Copa do Mundo na Rússia é compreensível. A rivalidade explica, além do medo de enfrentá-la por se tratar de adversário duro de roer.

Dia desses, em enquete da ESPN Brasil, a porcentagem dos que disseram torcer pelo Chile amanhã (9) beirou os 70%.

Porque a derrota da seleção brasileira dificultará a vida argentina, já suficientemente complicada por jogar três pontos decisivos na altitude de Quito, contra o Equador, eliminado, mas disposto a fazer história por desclassificar um bicampeão mundial.

O torcedor dá para entender, mas jornalistas que cobrem futebol torcerem igual é incompreensível. E há muitos, talvez também majoritariamente.

O grande festival quadrienal do futebol não pode deixar fora os melhores jogadores do mundo ou escolas que fazem parte da história do jogo.

Estamos diante do risco de ver uma Copa não só sem o gênio de Lionel Messi como também de Cristiano Ronaldo, simplesmente os dois melhores jogadores do planeta, além da eventual ausência de tetracampeã Itália, hoje sem nenhum astro excepcional, mas tão tradicional que fará muita falta.

Se a questão é tornar menos árdua a tarefa brasileira em busca do hexacampeonato, o pachequismo está coberto de razão. Mesmo que torne menos gloriosa a empreitada, porque ser campeão sem enfrentar os grandes não tem a mesma graça.

Uma coisa é fazer com genial irreverência, como Luis Fernando Verissimo fez certa vez, além do mais impregnado pelo sentimento fronteiriço dos gaúchos, sobre um gol de mão de Túlio contra a Argentina, na Copa América de 1995, quando sentenciou: "Contra os argentinos mão é peito".

Outra ainda é festejar, como Galvão Bueno, porque ganhar deles "é sempre mais gostoso".

Mas desejar a ausência, nos privar de eventualmente superá-los, soa como crime lesa futebol.

É o que pensa pelo menos um solitário brasileiro que, por não sofrer da "síndrome de Berlim", torceu pela Argentina na final da Copa passada contra a Alemanha, no Maracanã lotado de sentimento germânico, apesar do 7 a 1 de poucas horas antes.

Sim, seria duro aguentar os hermanos campeões em solo carioca, mas Messi merecia.

Menos mal que Tite não é Dunga e não se deixará levar por motivação mesquinha e certamente determinará que se jogue como é preciso, sem concessões aos chilenos no embate da vida deles nestas eliminatórias.

Para quem tem poucos jogos até a estreia na Rússia, aproveitar este altamente competitivo é oportunidade imperdível de fechar a participação brasileira com chave de ouro.

Além de ser prova de maturidade para seus jogadores não cometerem o pecado de receber cartões vermelhos que os suspenderão na Copa.

Em resumo: quem gosta, antes de mais nada, de futebol, torcerá pelo Brasil contra o Chile; pela Argentina contra o Equador; por Portugal que precisa vencer a Suíça na última rodada, também amanhã e, na futura repescagem europeia, pela Itália.

Já não basta os tri-vice-campeões mundiais holandeses estarem praticamente fora da Copa?

Os veteranos Van Persie, Robben e Sneijder verão a Copa pela TV.

Uma pena!


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