Folha de S. Paulo


Em La Paz, a seleção ganhou o jogo do comportamento. Falta o da covardia geográfica

Lucas Figueiredo/Divulgação/CBF
Treino da Seleção Brasileira na Granja. Lucas Figueiredo/CBF
Thiago Silva, Miranda e Neymar durante treino da seleção brasileira em Teresópolis

OS 3.660 metros de altitude em La Paz são mais que um obstáculo imposto pelas condições geográficas: são a mais evidente demonstração de que o fair play no futebol não passa de balela.

Jogar na capital boliviana é covardia dos locais, porque eles têm cidades como Santa Cruz de la Sierra que não impõem o sacrifício de La Paz.

Adoraria ver o dia em que um time, obrigado a padecer por lá, se recusasse a tentar jogar futebol e se limitasse a cada vez que estivesse com a bola a chutá-la nas arquibancadas, bola pro mato que é jogo de campeonato.

Porque os bolivianos não querem ver jogo de futebol algum, querem só ganhá-lo e com a vantagem desleal de terem nascido mais perto do céu que a maioria da humanidade.

Caso a seleção brasileira, sob comando de Tite, venha a perder sua invencibilidade nas eliminatórias para a Copa da Rússia, não haverá o que dizer além de saudar o fato de o time ir quase inteiro para lá.

Jogadores como Neymar poderiam ter forçado o cartão amarelo, ou inventado lesão, feito qualquer coisa para se livrar do sacrifício inútil com o time já classificado. Mas não.

Com exceção de Marcelo, por lesão, o grupo estará todo lá em cima, prova de compromisso, de vontade, de atitude positiva.

Dez anos atrás, um congresso médico da Fifa recomendou a proibição de jogos em cidades cujas altitudes superassem 2.500 metros, como La Paz, Quito, no Equador, e Cuzco, no Peru.

Vinte anos atrás aconteceu a última vitória brasileira em La Paz, na final da Copa América, que só tinha a Bolívia como participante exatamente porque os demais rivais sucumbiram diante dela na altitude.

Então, Zagallo cunhou a elegante frase "Vocês vão ter de me engolir", destinada a dois jornalistas, entre os quais este colunista.

Pior é engolir a altitude porque, embora o congresso da Fifa tenha sido explícito em dizer que "por razões médicas e para proteger a saúde dos jogadores, o Comitê Executivo resolveu que no futuro não será possível a realização de jogos internacionais em altitudes superiores a 2.500 metros", esse futuro jamais chegou.

Antes da resolução que ficou no papel, a seleção voltou a jogar em La Paz, em 2001, para perder por 3 a 1, e em 2005, para empatar por 1 a 1. Depois, em 2009, nova derrota por 2 a 1.

Daí não ser nada surpreendente se nesta quinta (5) a invencibilidade for para o espaço porque o que acontece lá raramente é jogo de futebol.

Se o Marco Polo que não viaja viajasse, ele bem que poderia pegar a seleção sub-23 e levá-la para Bolívia. Lá determinaria a tática da bola pro mato.

Podem acreditar a rara leitora e o raro leitor que os bolivianos começariam a pensar em deixar de se valer de expediente tão baixo, apesar de tão alto.

Seria irritante ver jogos assim que, além do mais, provavelmente terminariam 0 a 0.

PIADA PRONTA

Você se lembra de quando a artista plástica e primeira dama paulistana, Bia Doria, revelou, para surpresa geral, que não conhecia o Minhocão?

Pois José Simão me desculpe, mas talvez esteja aí a explicação para nosso alcaide ter chamado de "arte libidinosa" a exposição no MAM.


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