Folha de S. Paulo


Seleção vai bem nas estatísticas, mas história não permite empolgação

Wallace Teixeira/Futura Press/Folhapress
O técnico Tite durante convocação da Seleção Brasileira de Futebol realizada na sede da CBF no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira (10).
O técnico Tite durante a convocação da seleção brasileira para jogos das eliminatórias

A seleção faz campanha espetacular nas eliminatórias desde que Tite a assumiu: em um ano, nove jogos, nove vitórias, 27 pontos que somados aos nove anteriores ganhos pelo time de Dunga em seis partidas (duas vitórias, três empates e uma derrota) totalizam os 36 pontos que garantem o "título" antecipado do torneio quando ainda faltam três rodadas.

De fato, é formidável.

Só não é a primeira vez.

Apenas neste século as venceu para as Copas do Mundo de 2006 e 2010, em ambas com 34 pontos e nove vitórias. E quebrou a cara nas duas.

Quando, para a Copa de 2002, acabou atrás de argentinos e equatorianos, em terceiro lugar, com 30 pontos, ganhou o pentacampeonato na Ásia!

Tudo isso para dizer que se não há como deixar de elogiar o desempenho de Neymar e companhia é também muito cedo para achar que daqui para frente está tudo resolvido, porque não está. Lembremos da Copa das Confederações, em 2013...

O próprio Neymar, por exemplo.

Alguém precisa dizer a ele, de novo, que futebol é jogo de equipe e que dar piti não fica bem para quem pretende ser o número 1 do mundo.

Alguém que o desafie a lembrar de um piti de Romário, dos Ronaldos, Cristiano incluído, de Rivaldo ou Lionel Messi.

Que conte a ele como Pelé fazia ao reagir às agressões de adversários, às vezes até com violência, mas jamais ao dar espetáculos neurastênicos.

Contra o Equador, Neymar jogou para ele e não para o time, se descontrolou sem motivos, pareceu mais irritado consigo mesmo, por não conseguir se dar bem nas tentativas que fez, do que com as provocações, de resto comuns dos rivais.

A seleção jogou para o gasto.

Tite pôde ver que Philippe Coutinho é ótima opção pelo meio, sem precisar viver exilado pelos lados, com talento superior ao de Renato Augusto, embora menos inteligente na visão de jogo, mas capaz de curar dores nas costas tomando voos transatlânticos na veia.

Bastaram pouco mais de meia hora de futebol e determinação para pulverizar a retranca equatoriana e manter a incrível margem de 100% de aproveitamento em jogos oficiais sob o comando de Tite, embora a expectativa, que perdurará até março do ano que vem, seja pelo amistoso com a Alemanha.

De se lamentar a cegueira da CBF incapaz de aproveitar este raro momento em que a torcida está de bem com a seleção.

Com preços extorsivos, pôs apenas 37 mil pagantes num estádio com capacidade para 60 mil, com ingressos ao preço médio de 215 reais.

Imagine se fosse a CBF quem pagasse o salário de Neymar.

GESTOR PINÓQUIO

No dia 29 de junho o prefeito paulistano foi enfático ao dizer que o estádio do Pacaembu seguiria como palco apenas de atividades esportivas.

Seu plano de concessão do estádio, aprovado pela Câmara Municipal, ao contrário, admite que venha a ser usado para atividades culturais e de entretenimento.

Nem se discute aqui se é correto privatizar o estádio ou se é incorreto utilizá-lo para shows.

Mas por que mentir?

Não foi um dos pecados da campanha de Dilma Rousseff?

Dizer uma coisa e fazer outra?

Pois João Doria e seu nariz comprido seguem o mesmo caminho.

De avião a jato.


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