Folha de S. Paulo


A priorização de torneios no Brasil tem ficado ao sabor das circunstâncias

Diego Vara/Reuters
Renato Gaúcho durante jogo do Grêmio pela Libertadores
Renato Gaúcho durante jogo do Grêmio pela Libertadores

O Brasileiro é o campeonato mais importante do Brasil, certo? Errado, a julgar pelas escolhas do Grêmio, a Copa do Brasil é mais.

Mas a Libertadores é o torneio mais importante do continente, certo?

Sim, embora não devesse ser do jeito que é disputado.

Os clubes brasileiros são ruins quando o tema é planejar.

Fossem melhores e talvez o Grêmio estivesse mais perto do que está do Corinthians no Brasileiro -e não fadado a mais um ano de jejum, em vias de completar 22 anos na fila.

O clube tricolor gaúcho fez uma porção de escolhas erradas nesta temporada, embora possa terminá-la como campeão não só da Copa do Brasil como da Libertadores, e no Mundial da Fifa, nos Emirados Árabes, em dezembro.

Só que a primeira prioridade gremista neste ano foi o Gauchinho e nem à decisão chegou.

Depois escolheu lutar por sua sexta Copa do Brasil e andou escalando times reservas no Brasileiro para perder nove pontos com eles e ficar a oito, talvez 11, do Corinthians.

É fato que o líder faz uma campanha fora da curva, basta dizer que o Grêmio tem 38 pontos, só dois a mais que o Palmeiras campeão no primeiro turno de 2016.

É compreensível que o Grêmio, agora, eleja as copas como mais importantes, mas errou ao não olhar como deveria para o campeonato que exige regularidade para ser conquistado.

Porque está na hora de os clubes aprenderem a distinguir o maior do menor.

Não que seja fácil.

Pense em você na Presidência da República.

É unânime que o problema número 1 no Brasil, há mais de 500 anos, é o educacional. Deveria ser a prioridade de qualquer governante.

Mas, e a saúde pública em estado caótico, a insegurança pública apavorante, a corrupção?

Estivesse a questão educacional resolvida e o resto não estaria como está. Mas está. O que fazer?

Antes que você diga que não cabe comparar as prioridades de governo com as de clubes de futebol, deixe que eu mesmo diga: é claro que não!

Apenas se quer mostrar como priorizar é difícil e que quando se tem tantas prioridades é comum não ter nenhuma.

O Grêmio priorizou o Gauchinho, a Libertadores, a Copa do Brasil e deixou o Brasileirão.

O "inho" e o "ão" já eram e nada impede que as copas, em mata-mata, também escapem ainda antes da final. E então?

Então o Imortal se dará conta que quem tem uma competição garantida de maio a dezembro não pode jamais deixá-la de lado.

Sem se falar que além da glória conferida pela Libertadores pouca coisa mais se extrai dela.

Quem acompanha a coluna sabe que aqui até já se propôs ao Corinthians não disputá-la no ano seguinte a tê-la conquistado, para ir além das críticas e dar o exemplo já sem cara de desculpa por não vencê-la.

Sim, é querer demais.

Uma coisa parece certa: se o Brasileiro deixar de ser o sonho dos clubes, se a mediocridade prevalecer a ponto de só enxergá-lo como classificatório para a Libertadores, apenas aprofundaremos nosso papel secundário no mundo da bola.

Aproveitemos o potencial continental do Brasil, capaz de ser suficiente se bem planejado, e perguntemos aos americanos: a NBA quer cruzar com outras ligas? Ou ela se basta?


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