Folha de S. Paulo


Os times brasileiros não se cansam de protagonizar fiascos na Libertadores

Douglas Magno/AFP
Lance do jogo entre Atlético-MG e Jorge Wilstermann
Lance do jogo entre Atlético-MG e Jorge Wilstermann

MATA-MATA é assim, com frequência elimina o melhor time numa jornada infeliz.

Daí haver quem ache ser mais difícil ganhar a Libertadores que o Campeonato Brasileiro.

Já o pessoal do Jorge Wilstermann e do Barcelona deve estar achando ser mais fácil disputar o torneio continental que os campeonatos boliviano e equatoriano.

Porque eliminaram Galo e Palmeiras não por causa de uma noite de azar, pois os bolivianos venceram lá e empataram cá e os equatorianos ganharam na ida e só perderam na volta devido à trave, uma vez, e ao assoprador de apito, outra.

Miguel Schincariol/Folhapress
Banguera, do Barcelona de Guayaquil, defende pênalti cobrado por Egídio que eliminou Palmeiras
Banguera, do Barcelona de Guayaquil, defende pênalti cobrado por Egídio que eliminou Palmeiras

Não há desculpas nem para os mineiros nem para os paulistas.

Há, sim, razões técnicas e táticas para explicar os vexames de dois clubes que investiram mundos e fundos, a exemplo de outro eliminado precocemente, o Flamengo, para serem bicampeões da Libertadores e deram com os burros n'água.

Basta constatar o seguinte: o Galo empatou com um time boliviano ao fazer 43 cruzamentos, só seis certos, e o Palmeiras cruzou 25 contra os equatorianos, só três vezes bem.

Desnecessário lembrar que o solitário e insuficiente gol alviverde nasceu de uma jogada com a bola no chão graças ao talento deste brilhante Moisés.

O futebol prega peças, ninguém haverá de negar.

O Palmeiras mesmo foi vítima delas porque se viu, de repente, sem Mina e Dudu, lesionados durante o jogo contra o Barcelona, com Guerra ainda a meio vapor, sem Mayke, machucado, sem Borja, reprovado, e sem Felipe Melo, dispensado.

A maior parte do investimento inutilizada, fruto de mau planejamento.

No entanto, o milionário time da madame Leila não tem laterais e improvisou Tchê Tchê, para levar um baile de Caicedo.

Não, não houve azares nas eliminações em Belo Horizonte e São Paulo.

Nem azares, nem Cazares, nem calças vinho.

Tudo aconteceu como um Tolima, um Mazembe, um Raja Casablanca, enredos que já conhecemos e que desprezamos com nossa empáfia pentacampeã.

Nada mais distante do futebol da seleção brasileira que o praticado por nossos clubes, com honrosas exceções circunstanciais.

Não será por outro motivo que dos 23 convocados por Tite para os dois próximos jogos das eliminatórias, contra Equador e Colômbia, só quatro -os corintianos Cássio e Fagner, o gremista Luan e o são-paulino Rodrigo Caio-, atuam no Brasil.

Nosso futebol é burro, está defasado, não frequenta escola há muito tempo e vai apanhar sempre que apostar na tradição de seu passado campeão, no folclore da superstição e na imponência de suas arenas superfaturadas.

Um pequeno time de Cochabamba, para alegria dos cochabambinos, calou meia Minas Gerais, e o Barcelona, que não é o da Catalunha, humilhou a gente alviverde, para felicidade de alvinegros e tricolores paulistas.

E já houve noites piores que a da última quarta-feira (9).

Aconteceu em 4 de maio de 2011 quando Cruzeiro, Grêmio, Fluminense e Internacional também foram eliminados nas oitavas de final da Libertadores por colombianos, chilenos, paraguaios e uruguaios.

Sim, o futebol brasileiro virou apenas mais um, banalizado como o Hino Nacional desrespeitado nos estádios do país.


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