Folha de S. Paulo


Tentam derrubar o Profut, 1ª lei a exigir contrapartidas dos clubes

Se houve pelo menos um progresso com a aprovação do Profut esse foi a inédita exigência de contrapartidas por parte dos clubes devedores, às quais todos os clubes grandes do Brasil, com exceção do Palmeiras, aderiram.

O chamado Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro exige de seus participantes a apresentação de CNDs (certidões negativas de débitos fiscais) e a quitação de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), com o que houve o parcelamento das dívidas.

A partir do ano que vem, quem não apresentar as certidões ficaria impedido de disputar campeonatos.

Como é habitual neste país que não tem dinheiro para pagar salários dignos aos professores, mas distribui bilhões para deputados livrarem a cara de presidente pego em flagrante, muitos clubes aderiram, se beneficiaram durante dois anos dos benefícios da lei e agora, quando se aproxima a data de mostrarem que cumpriram a parte que lhes cabia, pressionam para o Congresso Nacional mudar a lei, arguem sua constitucionalidade no STF e até apelam para o presidente da República publicar Medida Provisória que os desobrigue de apresentar as CNDs ou, no mínimo, prorrogue o prazo a perder de vista.

Ameaçado de nova denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República, adivinhe se o maneiroso habitante do Palácio do Jaburu não atenderá aos apelos em nome da salvação do futebol pentacampeão mundial e, de quebra, de seu pescoço.

Ora, é claro que atenderá. Temer não precisará de passarinho algum para chilrear em seus maleáveis ouvidos a frase que ficou famosa quando da decretação do AI-5: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência."

Numa dessas, até Andrés Sanchez, deputado do PT e ex-presidente do Corinthians, um dos parlamentares porta-vozes da imoralidade, assim como seu companheiro de partido, Vicente Cândido, serão capazes de engrossar o coro contra a investigação do presidente e suas mesóclises, já que a turma das panelas acocorou-se silenciosa.

Como revelaram os repórteres Alex Sabino e Luiz Cosenzo, terça (8), nesta Folha, o Botafogo paulista, por exemplo, diz que não conseguiu pagar os cerca de R$ 33 mil mensais que lhe cabiam.

Assim é o capitalismo brasileiro.

Adora um monopólio e pede menos Estado, desde que possa continuar a mamar em suas generosas tetas.

É de se imaginar que a rara leitora e o raro leitor perguntem qual a importância de mais uma ferroada nos cofres públicos diante de tudo que estamos vendo no país.

De fato, é apenas mais um capítulo deste despencar rápido, súbito e inseguro por que passa a democracia brasileira.

Onde isso tudo acabará?

Quem disser que sabe certamente estará mal informado, embora seja possível assegurar que bem não será.

No Brasil o que se conquista a duras penas, homeopaticamente, uma colherzinha depois de outra, é retirado com pás, impiedosamente.

Daí, no futebol, como a farra continua enriquecendo a cartolagem e endividando os clubes, a solução é vender os Gabriel Jesus, Luan, para não citar Neymar, que agora vale quase meia Arena Corinthians.


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