Folha de S. Paulo


Campanha corintiana é a perfeita execução da ideia do futebol coletivo

O Corinthians ganhou de quatro dos cincos times apontados inicialmente como favoritos ao título.

De três deles, fora de casa, e sempre diante de cerca de 40 mil torcedores ou mais –muito mais no caso do Grêmio, com 54.022 torcedores em sua arena.

Contra o Palmeiras foram 39.091 e contra o Galo, 45.259.

Dois rivais favoritos foram enfrentados em casa: o Santos, perante 40.360 fiéis, e o Flamengo, o único que conseguiu empatar e assim mesmo graças ao erro de arbitragem mais bizarro deste Brasileiro, daqueles tão escandalosos que afastam quaisquer suspeitas de má fé, diante 45.110 pessoas.

De 15 pontos disputados contra os favoritos, 13 ganhos e para tanta gente testemunhar in loco.

Ou seja, o líder do Campeonato Brasileiro, o detentor do melhor primeiro turno da história de nosso futebol, gosta de jogos grandes, apesar de ir bem também nos menores, razão de seu aproveitamento extraterrestre de mais de 80% para atingir tal recorde.

Mas Neymar não joga no Corinthians, jogará no Paris Saint-Germain, para tristeza da Catalunha e felicidade da França, em busca de ser o número 1 do mundo, embora à custa de outra saída pelos fundos –nos dois sentidos, os pecuniários e os utilizados para não ter de enfrentar os fãs.

Nem o Rei Pelé joga no Alvinegro, porque se ainda jogasse valeria, no mínimo, o dobro de Neymar, quase dois bilhões de reais.

Joga Jô, artilheiro do campeonato sim, em fase excepcional sem dúvida, surpreendente, lépido e lúcido, leve e líder, mas que nem parte da seleção brasileira faz e se vier a fazer será como suplente de Gabriel Jesus.

Por que nunca nenhum outro time fez um primeiro turno tão eficaz como o corintiano, embora, convenhamos, equipes houve melhores que a de Fábio Carille em todos esses anos de Brasileiro em turno e returno e pontos corridos, algumas do próprio Corinthians?

Os adversários dizem em tom de queixa que o Corinthians joga quase todo atrás da linha da bola e que finaliza pouco, mas vence.

Verdade. Só Jô não fica tanto atrás da linha da bola, embora também fique, e só ele é responsável por 1/3 dos gols do time.

Não há como neutralizar e ganhar de tamanha obviedade?

Serão os deuses astronautas?

Será Fábio Carille um ET?

Alguém dirá, "não, ele é FC!".

Talvez esteja aí a chave que explique o fenômeno: poucas vezes se viu um time brasileiro capaz de botar em prática aquilo que mais bem define o futebol moderno desde que os ingleses passaram a praticá-lo e normatizá-lo: a ideia de que o futebol é um esporte coletivo, em que se as individualidades são importantes na exploração do talento de cada um, a união é que faz a força, em que prepondera a máxima dos mosqueteiros, "Um por todos, todos por um".

Nada mais parecido com o Corinthians de hoje em dia, de Cássio a Romero, ou, sem o paraguaio, sem Jadson, sem Pablo, com quem puder, com quem vier.

Contra o Sport, neste sábado (5), por exemplo, na fácil vitória por 3 a 1, Clayson mostrou mais uma vez que é boa opção pelos lados do campo e Pedro Henrique até gol fez.

Hoje restará ao corintiano ver seus concorrentes correrem para a diferença não aumentar. Que fase!


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