Folha de S. Paulo


Acusado em três países, Ricardo Teixeira ainda é protegido pelo Brasil

Tasso Marcelo - 16.ago.2016/AFP
Ricardo Teixeira durante o enterro de João Havelange, no Rio
Ricardo Teixeira durante o enterro de João Havelange, no Rio

Ricardo Teixeira é alvo de novo pedido de captura e prisão, agora por parte da Justiça espanhola, cujas investigações não poupam também o ex-presidente da CBF José Maria Marin e o atual, Marco Polo Del Nero, o Marco Polo que não viaja.

Teixeira, ainda quando presidia a Casa Bandida do Futebol, foi indiciado mais de uma dezena de vezes na chamada CPI do Futebol, no Senado Federal.

Aos indiciamentos, antes e depois deles, no século passado e neste, somam-se as denúncias feitas pela imprensa brasileira um sem número de vezes e com provas documentais.

A muitas dessas denúncias Teixeira respondeu com ações na Justiça na tentativa de intimidar jornalistas e com o beneplácito, em não poucas ocasiões, de maus juízes e desembargadores cariocas que eram seus convidados para as Copas do Mundo, com direito a hotéis de cinco estrelas, ou participavam de alegres campeonatos de futebol na Granja Comary, da CBF.

Em grande parte das vezes as absolvições só vinham nos tribunais superiores, em Brasília.

Até que a impunidade de Teixeira sofreu o abalo das investigações do FBI e ele teve de renunciar tanto à presidência da CBF quanto à do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, além de ao cargo no Comitê Executivo da Fifa.

Em seguida teve de abandonar o palácio em que vivia na Flórida para não ser preso nos Estados Unidos.

Passou a viver novamente no Rio de Janeiro, sem deixar de influenciar os rumos da CBF, embora de maneira discreta.

Por padecer de arrogância incontrolável, mesmo em situação moralmente miserável, foi capaz de perguntar ao repórter Sérgio Rangel, em recente entrevista à Folha: "Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não."

Agora parece que as autoridades brasileiras resolveram se mexer, pra lá de tardiamente, e buscar informações com a Justiça da Espanha, que mantém encarcerado Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona e sócio de Teixeira na venda de direitos da seleção brasileira, e acaba de prender o presidente da federação de futebol espanhol, no posto há 29 anos.

O Brasil não é mesmo para principiantes, como dizia Antônio Carlos Jobim.

O que explica, por exemplo, que um criminoso brasileiro não possa ser extraditado para o país em que cometeu crime? Por que a tal da inextraditabilidade (que palavra!) ainda vigora por aqui em pleno mundo globalizado?

E, fundamentalmente, quem disse que Teixeira não praticou crimes no Brasil, quando pelo menos uma CPI, com relatório aprovado, apontou mais de uma dezena, além dos, repita-se, documentados pela imprensa?

Resta perguntar ainda o que o Ministério Público Federal está esperando, o que a Polícia Federal está aguardando e o que a Receita Federal está expectando?

Como é bom lembrar que de todos os denunciados no escândalo da Fifa apenas Del Nero não recebeu nenhuma punição, embora seja o Marco Polo que não viaja -para desencanto dos admiradores do aventureiro veneziano.

E do FBI, certamente.


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