Folha de S. Paulo


Demitir técnicos enquanto cartolas ficam é a solução amadora de sempre

Guilherme Dionizio/Folhapress
Dorival Júnior comanda treino do Santos, no CT Rei Pelé, para o duelo contra o Sporting Cristal (PER), pela fase de grupos da Libertadores
Após derrota para o Corinthians, o Santos demitiu o técnico Dorival Júnior neste domingo

Dorival Júnior caiu. Michel Temer ainda resiste, ou melhor, Modesto Roma Júnior permanece. Eduardo Baptista também já foi dispensado e nem por isso o Palmeiras começou a mostrar um mínimo de futebol.

Não por culpa de Cuca que herdou um time que não é mais o dele, sensivelmente enfraquecido com as ausências, por circunstâncias, de Moisés, e definitiva, de Gabriel Jesus. Destemido, o novo velho técnico deixou o xerifão Felipe Melo no banco e optou por Thiago Santos, mais adequado ao seu estilo.

Nem por isso o time melhorou no paupérrimo, e justamente vaiado 0 a 0, embora tenha sido mais agressivo que o Galo, medroso até que Roger Machado pôs Maicosuel e Valdívia no jogo, quando só Fernando Prass passou a trabalhar.

O Alviverde poderia ter vencido se Willian não batesse tão mal o pênalti infantil que Fred cometeu em Edu Dracena e aí haveria quem saudasse o resultado, nada que salvasse o desempenho.

Porque os cartolas são assim: não estão nem aí por dar continuidade a trabalho algum e ainda são capazes de montar times para o treinador x e contratar em seguida o y.

O Santos até que insistiu com Dorival Júnior, mas desistiu depois da derrota normalíssima contra o Corinthians na casa do rival. Erro crasso. Quem sabe vá agora buscar Lula, aquele que comandou por 12 anos o alvinegro praiano. O problema está em que ele já morreu, muito cedo, aos 50 anos, em 1972.

Problema ainda maior é que nem Dorival Júnior, nem Cuca, nem Eduardo Baptista, têm jogadores à altura dos que Lula teve.

Raramente os técnicos são o problema, apesar de também nem sempre serem a solução. (Aqui cabe dizer que se tivéssemos um governo com mais técnicos e menos Jucás e Padilhas poderíamos viver sem Temer).

O Arsenal sabe disso e renovou com Arsène Wenger por mais dois anos, com o que ele pode chegar a 23 anos à frente do clube londrino porque, provavelmente, concluiu que pode não estar ótimo com ele, mas ficará pior sem.

É o que se espera do São Paulo, mais recente exportador, no atacado, de pé de obra do futebol nacional. Exigir o que do novato Rogério Ceni?

Quem viu a derrota de domingo (4) para a Ponte Preta por 1 a 0, em Campinas, testemunhou um time corajoso, mas limitado, extremamente limitado.

Como é limitada a Ponte Preta, com a diferença de que há um bom tempo tem escolhido treinadores que mantêm seu modo de jogar, como o Corinthians, depois das desastradas escolhas de Oswaldo de Oliveira e Cristóvão Borges, faz com Fábio Carille, o que tira leite de pedra.

O comando amador e político dos clubes brasileiros, com as exceções de praxe, tira o peso dos ombros ao demitir e contratar treinadores sem um mínimo de coerência.

Não só os clubes, aliás.

Veja o que fez a CBF neste século, apesar de seus presidentes serem assalariados —o que não significa que sejam profissionais na acepção do termo.

Buscou Felipão para salvar a pátria em 2002 e bateu cabeça até achar outro, Tite, depois de experimentar, e por duas vezes, o irritadiço Dunga!

E tivemos Parreira, Mano Menezes e mais Felipão.

Só faltou coerência.

Como nos falta presidente.


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