Folha de S. Paulo


Tite age fortemente para impedir que o time da CBF caia na pasmaceira

Erbs Jr./Folhapress
Técnico Tite convoca os jogadores da seleção brasileira para os amistosos diante da Argentina e Austrália, na sede da CBF, no Rio
Tite gesticula após anunciar a lista de convocados para os amistosos contra Argentina e Austrália

Primeiramente, antes que fira suscetibilidades, ser marqueteiro, como maleável, não é necessariamente mau.

Quando o marqueteiro tem o que apresentar, como tem sido o caso de Tite, é justo chamar atenção para seu trabalho.

Da mesma maneira, ser maleável pode revelar alguém capaz de ouvir, de conversar, rever posições.

O treinador da seleção brasileira se enquadra positivamente nos dois casos. É bom propagandista de si mesmo, fez a seleção renascer e é tão bom de papo que consegue conviver com aquela gente que habita a CBF.

Capaz até de convencê-la a deixar Neymar de fora de dois amistosos da seleção, coisa que a fuga de patrocinadores da Casa Bandida do Futebol não recomenda, mas que os cartolas têm de aceitar porque, afinal, Tite é o salvador da pátria.

Em tempos de marketing pelo marketing, como faz o prefeito paulistano, ou de falsa indignação do presidente da República, Tite prepondera.

Ninguém dava um tostão para a convocação da seleção anteontem.

Time classificado para a Copa do Mundo na Rússia, a chamada para dois jogos amistosos na distante Austrália, embora um deles contra rival tradicional como a Argentina, num dia posterior ao escândalo que abala a República, convenhamos, era para passar despercebida. Mas não passou.

Não porque Tite tenha convocado o goleiro Diego Alves, o maior pegador de pênaltis da história do Campeonato Espanhol. Aos 31 anos, o goleiro do Valencia já teve contra si 46 pênaltis, defendeu 21, um bateu na trave e outro foi para fora, ou seja 50%, não foram convertidos.

Nem porque tenha deixado Neymar fora, medida sensata para poupar o gênio do time e para testar o time sem ele.

Principalmente porque Tite fez questão de mostrar a todos os jogadores brasileiros de futebol que não há atletas proscritos ao convocar o zagueiro David Luiz, um dos símbolos, justa ou injustamente, do 7 a 1.

Falta, ainda, quem sabe, convocar o centroavante Fred.

Medida cosmética ou não, não será surpresa se a zaga titular vier a ser formada num amistoso por Thiago Silva e David Luiz, sempre sem esquecer de que Thiago não jogou contra a Alemanha -confusão ainda feita por muitos (como se cobrou, por anos a fio, a entrada do volante Batista para segurar o empate em 2 a 2 contra a Itália, em 1982, na Espanha, apesar de o jogador, machucado no jogo anterior contra a Argentina, nem estar no banco).

Tite, aparentemente tão previsível, chama atenção também por causar tilte em Ticos e Tecos binários.

Como convocar o indisciplinado Fagner, cuja fase não é boa, e, ao mesmo tempo, o ético Rodrigo Caio, igualmente em mau momento?

Tite não perderia a chance de chamar o zagueiro são-paulino na primeira lista depois de seu gesto no Majestoso pelo Paulistinha ao salvar o corintiano Jô. Faz todo sentido. Mas, e Fagner, expulso no clássico seguinte por dar um tostão irresponsável em Cueva?

Definitivamente, o Brasil não é para principiantes como um dia disse Tom Jobim.

Nem no futebol, nem na política.

Tite faz bem em pedir para parar com a brincadeira de fazer dele presidente.

Mas é profissional muito mais competente do que Temer.


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