Folha de S. Paulo


Torcedor traumatizado, pontepretano precisa acreditar que seu dia virá

EM 1977 foi quase unânime ser insuportável para a Ponte Preta superar o Corinthians em três jogos seguidos no mesmo Morumbi lotado pela Fiel. Em 1979, também.

Agora, o impossível estava em virar um placar adverso de 3 a 0 obtido pelo Corinthians na casa da Ponte, em Campinas. Desta vez, o sentimento era unânime e não era burro, apenas realista.

A festa, que já durava uma semana, virou bagunça com uma hora de jogo na Arena Corinthians lotada por mais de 46 mil torcedores quando Romero perdeu e marcou o gol que ampliava a vantagem para 4 a 0 no placar agregado, um gol que não foi direto como o de Basílio em 1977, mas que não cabe comparar, até porque a Ponte ainda empatou.

Dizem que a história se repete como farsa. Coube ao Corinthians desmentir a máxima e fazê-la repetir como festa. Desde que o jogo final começou, quem criou chances de gol foi o campeão estadual pela 28ª vez, o 5º Paulistinha no século 21. Uma vez com Maycon, que mandou na trave, e a outra com Jô.

Para variar, riscos o Corinthians não correu ao fazer o chamado jogo de segurança, o que até permitiu à Ponte Preta jogar muito melhor do que jogou em Campinas, quando, de fato, o campeonato se decidiu.

Segue a Via Crucis pontepretana em busca do título perseguido desde 1900. Se o corintiano deixou de ser maloqueiro e sofredor, porque hoje tem casa (precisa pagar, precisa pagar) de mármore e é vencedor, o pontepretano não. É o verdadeiro torcedor traumatizado em São Paulo, aquele que precisa acreditar que seu dia virá porque, como dizia o corintiano cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, não há derrotas definitivas para o povo.

Nem vitórias em estaduais que devam ser comemoradas por mais de 24 horas. E já faz mais de uma semana que o corintiano comemora.

Vá lá, porque o direito de festejar é eterno enquanto dura.

LOTAR ESTÁDIOS

O excelente levantamento apresentado pelo vizinho PVC ontem sobre o expressivo aumento de público no campeonato estadual revela o quanto os grandes clubes são capazes de fazer para manter seus estádios lotados ou quase, independentemente dos torneios que disputem, Libertadores ou par ou ímpar.

A questão, de fato, está em trabalhar, em fazer o que precisa ser feito para que o torcedor vá aos estádios, faça chuva ou faça sol, qualquer que seja a competição.

Para tanto, será essencial que mude radicalmente a relação entre a gestão do futebol e o torcedor, que tem motivos de sobra para desconfiar dos atuais cartolas e exigir a modernização dos métodos que hoje infelicitam a maior paixão popular do Brasil. Para tanto, para que se tenha um calendário racional, urge organizar campeonatos que façam sentido durante todo o transcurso, não apenas, como os estaduais, no final.

ALELUIA!

O Nordeste, mais especificamente Pernambuco, foi palco do primeiro jogo com vídeo-arbitragem no país. Sport e Salgueiro, na partida de ida da decisão estadual, tiveram a primazia que precisa virar hábito de norte a sul, de leste a oeste. Aos trancos e barrancos, a nave vai.


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