Folha de S. Paulo


Cristiano Ronaldo é uma máquina tanto física como mentalmente

É do folclore da imprensa paulistana um episódio acontecido no inovador "Jornal da Tarde" (1966-2012), que privilegiava o apuro no texto e as sacadas de edição.

Houve até relatos de jogos que de tão caprichados esqueciam de dar o placar.

O episódio folclórico envolveu o atacante argentino Luis Artime, um artilheiro nato que brilhou no Palmeiras em fins dos anos 1960.

Artilheiro do Campeonato Argentino quatro vezes, três do Uruguaio, campeão da Libertadores e da Taça Intercontinental pelo Nacional de Montevidéu, em 1971, fazia gols como respirava, dono de extraordinário senso de colocação.

Numa tarde apagada, Artime fez os dois gols da vitória palmeirense, suponho que contra a Portuguesa.

O "Jornal da Tarde" dava notas aos jogadores e no dia seguinte estava lá: "Artime pegou duas vezes na bola e fez dois gols. Mais nada. Nota: 5".

Tudo isso para falar de Cristiano Ronaldo, o marrento CR7, o que joga com um olho na bola, outro no goleiro e mais um no telão dos estádios.

Seria um exagero dizer que o velho "JT" teria dado outro 5 para ele depois do jogo contra o Atlético de Madrid, pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, no Santiago Bernabéu?

Será que diria que "Cristiano Ronaldo pouco pegou na bola e fez só os três gols da vitória do Real Madrid"?

(Atenção, estamos no modo ironia).

Porque o lusitano é impressionante.

Não tem a mesma magia e capacidade de armar de seu concorrente Lionel Messi, mas faz gols com tal facilidade e de todos os jeitos possíveis e imagináveis que às vezes não parece homem, parece máquina gelada, daí ser até capaz de ter três olhos.

Artime deixou o Palmeiras com a espantosa média de 0,84 gol por jogo, assim como fez 24 gols em 25 participações pela seleção argentina. "Só" por isso é inesquecível para quem o viu. E Cristiano Ronaldo?

Tudo bem, ele joga no Real Madrid, o clube mais vencedor da história do futebol mundial, o clube do século 20.

Mas o lusitano levou sua seleção ao título da Eurocopa no ano passado, algo que nem ele imaginava ser capaz, embora certamente sonhasse com isso de olhos abertos e fechados.

Sua média de gols no Campeonato Espanhol é ainda mais impressionante que a de Artime no Palmeiras, pois é de 1,07 gol em 261 jogos e 280 tentos.

Ah, mas o Campeonato Espanhol é uma moleza, dirão a rara leitora e o raro leitor. OK, pode ser.

Olhe, então, para esta média, na Liga dos Campeões, o maior e melhor torneio de clubes do mundo: o CR7 jogou 138 partidas pelo campeonato da UEFA e já marcou 102 vezes, média de 0,74. É portentoso, é fabuloso, é fenomenal.

Walter Casagrande Júnior disse na TV Globo que se tivesse que escolher antes da pelada entre Cristiano e Lionel escolheria o gajo, 32 anos completados em fevereiro.

Acho que Tostão continua a escolher o argentino, média de 0,91 na Liga Espanhola e 0,82 na dos Campeões.

E você, escolheria quem?

Modestamente, como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte, se eu tivesse que escolher entre os dois ficaria com ambos.

"Ambos os dois!", como diria o também lusitano Luís de Camões.


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