Folha de S. Paulo


Festival de cinismo de cartolas do esporte brasileiro

Somos otários, mas imbecis não somos, porque, aí, também, já seria um excesso de autocrítica.

Otários já se concedeu aqui no domingo passado que somos.

Mas três cartolas cínicos, um do Palmeiras, outro do Comitê Olímpico Brasileiro e o terceiro do São Paulo, nos trataram como imbecis nos últimos dias.

Começou com o ex-presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi, em entrevista nesta Folha publicada na terça-feira (28).

Num primor de desfaçatez, para fugir de explicar o inexplicável, porque fruto de sua criação, a concessão de título de sócia à patrocinadora do clube, Leila Pereira, ele saiu-se com esta: "Infelizmente, as pessoas do clube que estavam nesse processo já morreram. Se alguém estiver muito interessado, que vá em uma mesa branca".

Contursi sabe ser impossível apresentar quaisquer documentos para comprovar a associação fruto de sua imaginação e, diga-se, respaldado pela maioria esmagadora do acovardados e interesseiros conselheiros do Palmeiras. Os poucos que se opuseram ao escárnio esgotaram a coragem no voto contrário, mas parecem indispostos a procurar a Justiça para desmascará-lo.

Talvez procurem "uma mesa branca" em algum centro espírita, com todo respeito.

No dia seguinte, antes da festa de entrega do Prêmio Brasil Olímpico 2017, o indefectível presidente do COB, Carlos Nuzman, que ao assumir a entidade em 1995 prometera fazer do Brasil "uma potência olímpica em oito anos" e que às vésperas da Rio-16 garantiu ter o megaevento a capacidade de "mudar definitivamente o patamar do esporte brasileiro", saiu-se com esta: "O Brasil passou de 2002 a 2016 organizando grandes eventos, as origens de recursos eram diferentes. A partir de agora, a gente volta ao que era antes de Sydney-2000". Não é fantástico?

Fabrice Coffrini/AFP
The president of the Olympic Committee of Brazil and Rio 2016 Organising Committee for the Olympic Games, Carlos Arthur Nuzman delivers a speech during the closing ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at the Maracana stadium in Rio de Janeiro on August 21, 2016. / AFP PHOTO / Fabrice COFFRINI
O presidente do COB, Carlos Nuzman, no encerramento da Rio-16

Nada menos do que 22 anos depois de ele ter assumido a presidência do COB, voltamos a antes de 2000!

E Nuzman não enrubesceu, até sorriu, difícil dizer se por um tique nervoso ou apenas por mero cinismo.

Por último, e desta vez menos importante mesmo, na quinta-feira (30), o diretor de futebol do São Paulo, José Jacobson Neto, candidatou-se à cadeira de filósofo do futebol.

Em tom professoral, ensinou que um erro crasso do passado é um acerto cristalino hoje, e assim justificou a inaceitável, embora nada inédita, decisão de o Linense exercer seu mando de campo nas quartas de final do Paulistinha no Morumbi, contra o dono da casa, sim, o próprio São Paulo: "Não acho que configure inversão de campo, porque o futebol tem que ser visto como profissional, um negócio, e isso será bom para o Linense.

Não fere a esportividade. No Brasileiro do ano passado, o Palmeiras jogou contra o América mineiro em Londrina e o São Paulo enfrentou o mesmo time em Belo Horizonte. Isso faz parte do futebol".

Faz parte do futebol BRASILEIRO, Jacobson esqueceu de dizer, porque em qualquer outro lugar do mundo civilizado tal farsa nem seria cogitada.

Sim, somos otários, e da CBF à FPF, do COI ao COB, do PT ao PMDB, passando pelo PSDB, da Odebrecht à Petrobras, todos riem de nós.

Mas imbecis não somos porque sabemos que somos otários.


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