Folha de S. Paulo


São Paulo e Corinthians não fizeram o jogo que os torcedores mereciam

Como o volêi da Seleção Brasileira por muitos anos não foi o vôlei do Brasil, o futebol da seleção brasileira tem sido muito melhor que o futebol jogado no país.

E o que era para ser o Majestoso de ontem o demonstrou mais uma vez, num embate tão fraco no primeiro tempo que houve apenas um chute a gol, de Rodriguinho, de fora da área, defendido sem maiores dificuldades por Renan Ribeiro.

Verdade que o segundo tempo foi muito mais movimentado, embora não à altura dos quase 52 mil torcedores tricolores no Morumbi.

Ao menos os gols saíram, um para cada lado, apesar de ambos frutos de falhas grotescas do goleiro Cássio e da defesa são-paulina, feitos pelo zagueiro Maicon e pelo centroavante Jô, o terceiro dele em clássicos, autor que foi dos gols que deram as vitórias corintianas contra Palmeiras e Santos.

Quem literalmente roubou o espetáculo foi o assoprador de apito, um banana vestido de amarelo que teve medo de mostrar cartões vermelhos quando deveria para Wellington Nem e Pablo.

Desfalcado de seus dois principais jogadores, o peruano Cueva e o argentino Lucas Pratto, ambos em suas seleções nacionais pelas eliminatórias da Copa do Mundo na Rússia, o São Paulo revelou enorme dificuldade para furar o bloqueio alvinegro e, para variar, pela 13ª vez seguida, sofreu gol por incompetência da defesa que deixou Jô livre, leve e solto para fazer o gol do 1 a 1 final.

Sem desfalques da mesma importância, porque se Fágner faz falta a ausência de Romero é uma bênção, o Corinthians novamente mostrou a eficácia de sua defesa, traída ontem pelo goleiro, e capacidade próxima de zero para criar.

Jadson está a léguas do que foi em 2015 e Rodriguinho, aplicadíssimo, tem talento limitado para resolver o problema.

Único invicto nos clássicos, por paradoxal que pareça, o Corinthians ainda é o mais fraco dos quatro grandes que deverão fazer as semifinais do Paulistinha. Melhorará?

OTÁRIOS

"Eles pensam que nós somos otários", reagiu Paulo Autuori, o único profissional do futebol brasileiro a se insurgir contra o golpe dado pela CBF ao aumentar para três o peso dos votos das 27 federações estaduais. Autuori é um cara de princípios e não transige, mas, desgraçadamente, está enganado.

"Eles" não pensam, têm certeza.

E "eles" não são apenas os cartolas corruptos, são também os políticos corruptos, os empresários corruptos, os corruptos, enfim.

Porque reagimos poucos e pouco reagimos, quase sempre, individualmente.

Engolimos sem reagir qualquer vira-casaca como o secretário-menor da CBF dizer que dar peso maior aos clubes das séries A e B seria elitismo, quando os 40 representam mais de 95% da torcida brasileira.

É verdade que ele não engana ninguém, mas, também, não causa indignação nem entre os cartolas dos clubes, acovardados, cúmplices e vendidos, às vezes, por um simples convite para "chefiar" delegações de seleções brasileiras.

Daí sermos sim, como torcedores, e como cidadãos, otários.

Autuori é a exceção que confirma a regra. Nem por isso menos elogiável.

Precisamos de mais brasileiros como ele. No futebol, na política e nas empresas.


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